São Januário não é perigoso; as pessoas sim

São 88 anos de história, quase nove décadas cravado no coração da Zona Norte do Rio de Janeiro. São Januário está lá, imóvel, mas pulsante.

Assim como todo idoso, tem encolhido ao passar dos tempos, mesmo fazendo pouquíssimas ‘cirurgias’. Umas cadeiras aqui, um retoque ali, mas nada que explique uma queda de 40 para 15 mil expectadores. Mas se é para melhorar a segurança e o conforto das pessoas, ok.

Comparado às novas arenas, São Januário é um estádio de porte médio, não pequeno, muito menos perigoso. Em 88 anos de vida, jamais soltou um rojão, pegou numa barra de ferro ou tentou socar alguém. Até acredito que muitas vezes arriscou alguns chutes, como aquele de Donizete, em 98, contra o Barcelona do Equador. Mas pessoas, ele nunca chutou. Não mesmo.

As ruas são sim apertadas, acanhadas, até mesmo confusas para quem não está acostumado com elas. Mas isso numa sociedade normal deveria causar apenas trânsito, não violência. Aliás, enquanto você lê, São Januário e suas vias estão lá, no mesmo lugar, recebendo milhares de vascaínos, flamenguistas, botafoguenses, tricolores e, por que não, corintianos, que passam de um lado para o outro trabalhando. Em paz.

O estádio não faz mal a ninguém, as pessoas – algumas – sim.

São Januário não é perigoso, alguns ‘torcedores’ são. Uma minoria bem pequena, mas que é capaz de causar danos gigantescos. Estes, deveriam estar longe não apenas das arquibancadas, mas dos verdadeiros torcedores. Porém, os (ir)responsáveis preferem apontar o local como principal preocupação de um jogo. Não é.

É como culpar a largura do vagão pelo assédio sofrido por mulheres no metrô, por exemplo. Também não é. O crime é de quem comete, não do lugar onde ele é realizado.

Estádios não brigam, pessoas sim.

O último confronto entre “torcedores” de Corinthians e Vasco aconteceu bem longe do Rio e de São Paulo. Foi em Brasília, no recém reformado Mané Garrincha. E São Januário? Não saiu no braço com ninguém. Estava lá, onde sempre esteve, próximo a Barreira, pegando um sol e recebendo a benção do Cristo Redentor. E é assim todos os dias, desde 1927, quando foi erguido.

O problema não é o estádio – seja ele qual for -, são alguns poucos que o frequentam vez ou outra. E isto é um problema a ser resolvido pela polícia, não pelo clube. Reduzir a capacidade da Colina Sagrada ou impedi-la de sediar eventos maiores não afasta os ruins, apenas amedronta os bons.

Com 40, 30 ou 5 mil, a preocupação será sempre a mesma: aqueles 100 que vão ao jogo para brigar e tumultuar. Enquanto eles seguirem livres, não importa o local ou o time que torcem, haverá sempre o risco. E não apenas ao futebol, mas à sociedade.

Fonte: L! – Blog do Garone

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