Pra ver inglês e o Expresso: em 1949, São Januário recebeu 60 mil pessoas

De 1927 até a inauguração do Pacaembu, em 1940, o estádio Vasco da Gama – que ficou conhecido como São Januário por causa de uma das ruas do seu entorno – era, além de orgulho de uma torcida, o maior estádio do Brasil. Mais de setenta anos depois, a capacidade total diminuiu quase pela metade, mas olhar para a história do “caldeirão” da Colina Histórica ainda guarda algumas curiosidades. O recorde de público oficial é de uma derrota para o Londrina, em 1978, quando 40.029 pagantes viram os paranaenses vencerem os donos da casa. Nos anos 1920 e 1940, dois amistosos internacionais tiveram públicos do tamanho do atual Maracanã: 60 mil.

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Mas como é possível um estádio de futebol que já recebeu mais de 40 mil diminuir a esse ponto a capacidade – para 24 mil, número máximo hoje em São Januário – sem passar por uma grande reforma, como foi o caso, por exemplo, do Maracanã e do Mineirão? É um misto entre costumes, fatos históricos e, principalmente, medidas de segurança recentes que explicam o “encolhimento” do estádio vascaíno. Um pedido do GloboEsporte.com para o Centro de Memória Vasco da Gama mostra que até 2000 – quando o alambrado da arquibancada da curva de São Januário cedeu após confusão na torcida na final do Brasileiro daquele ano contra o São Caetano – era comum o estádio receber públicos bem próximos da lotação máxima de 40 mil pessoas.

Em série de limitações que vieram junto ao Estatuto do Torcedor de 2003, aliadas a mudanças na contagem de pessoas por metro quadrado pelos órgãos oficiais, além de algumas pequenas adequações de obras no estádio – cadeiras a mais ao lado da social e colocação de camarotes no anel da curva da arquibancada, por exemplo, retiraram espaço onde muitos vascaínos assistiam aos jogos -, tornam impossível de se imaginar que num Vasco 2 x 2 Vitória, no dia 21 de novembro de 1999, 36.910 pagaram para ver a partida no Campeonato Brasileiro – maior público depois do recorde oficial da partida contra o Londrina de 1978.

Histórico pela iniciativa dos torcedores, pelos discursos do presidente Getúlio Vargas, pelos concertos de Villa-Lobos, desfiles de escola de samba nos anos 1940 e sede de jogos da seleção pré-Maracanã, São Januário diminuiu a capacidade para 19 mil com o Estatuto do Torcedor – o clube precisava de sistema de monitoramento de câmeras, atendimento médico suficiente e proporcional à capacidade de público, entre outras melhorias que o Vasco não fez.

Mais recentemente, outras normas para atender ao Corpo de Bombeiros e a Polícia Militar: mais catracas, mais acessos ao estádios, mais facilidades e conforto aos torcedores.

DEGRAUS LARGOS NA ARQUIBANCADA, ESPECTADORES DE PÉ

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Construção de 1927 – em terreno comprado dois anos antes e erguido através de contribuições de vascaínos, dos ricos aos operários -, o estádio tem particularidades inerentes à cultura do futebol da época. Em alguns degraus da arquibancada, que são bem largos, principalmente no centro do campo, é possível até duas fileiras de torcedores de pé. O relato a seguir é do engenheiro e historiador vascaíno Mauro Praiss.

– Meu pai ia muito a São Januário na época do Expresso da Vitória e ele me contou que, nos jogos mais cheios, quando a partida começava, todo mundo se levantava e não se sentava mais. Assistir aos jogos em pé era comum nos estádios antigamente. Além disso, há uma diferença entre os degraus das arquibancadas na parte reta e na curva. A altura na curva é praticamente o dobro. Suspeito que a parte reta não foi feita para o público se sentar e sim para ficar de pé. Ninguém se senta confortavelmente com os joelhos batendo no queixo – observa Praiss.

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O recorde não-oficial de público de São Januário é de um dos jogos históricos do Expresso da Vitória, o time que dominou o futebol carioca e foi campeão sul-americano invicto em 1948 no Chile – troféu reconhecido como Libertadores em 1996 pela Conmebol. No amistoso internacional de 25 de maio de 1949, o Vasco venceu o Arsenal, campeão inglês, por 1 a 0. Anos antes, em 1928, outra vitória de 1 a 0 do time da casa contra estrangeiros, o Wanderers, de Montevidéu, público estimado de 60 mil espectadores em São Januário.

Os historiadores do Centro de Memória do Vasco relatam que a diferença de público dos jogos com estimativas de 60 mil pessoas é justificada pela seguinte razão: os sócios do Cruz-Maltino não pagavam entradas e podiam levar até dois acompanhantes. Caso os convidados pagassem entrada, era um valor de arquibancada, por exemplo. Ou seja, se havia 25 mil sócios e o clube vendia mais de 25 mil entradas, o público em São Januário poderia ser superior a 50 mil pessoas. A partida contra o Arsenal era cercada de expectativa, pelo enfrentamento com os poderosos inventores do futebol. E o estádio certamente recebeu grande número de caronas e convidados ilustres não contabilizados no registro vascaíno da época.

NOVE PÚBLICOS ACIMA DE 30 MIL ENTRE 1998 E 2000

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A lista dos maiores públicos oficiais da história de São Januário (confira a lista completa abaixo) reflete um dos momentos mais vitoriosos do clube. São nove públicos acima de 30 mil pessoas entre 1998 e 2000. Na final da Libertadores, o clube contabilizou 36.273 pagantes – 2 a 0 sobre o Barcelona de Guayaquil, do Equador. Há dois “intrusos” dos anos 1940 na lista – dois clássicos da era pré-Maracanã, em vitórias vascaínas sobre Flamengo (2 a 1) e Fluminense (2 a 0).

São Januário começou a diminuir após a queda do alambrado de 2000, quando no início da partida entre Vasco x São Caetano um clarão se abre na arquibancada do estádio e a pressão sobre a grade fere torcedores e interrompe a final do Brasileiro. O público oficial daquele jogo é de 32.537 pessoas – laudo do Instituto de Criminalística Carlos Éboli concluiu à época que havia 5.231 pessoas a mais do que a capacidade total de público do estádio. Em decisão da Justiça de 2011, a juíza Anna Eliza Duarte inocentou o clube pelo acidente e disse que a superlotação de São Januário não ficou comprovada.

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VASCO X CORINTHIANS NOS MAIORES PÚBLICOS DESDE 2005

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Em comparação com a capacidade já reduzida, o jogo desta quinta-feira pode se tornar o sétimo de maior público dos últimos 10 anos se todos os 20.900 ingressos forem vendidos – a carga total é de 21.880 contando gratuidades e cortesias. Até segunda-feira, o Vasco anunciou que foram comercializados cerca de 14 mil bilhetes em três dias, mas não informou nenhuma parcial na última terça. Pelo lado do Corinthians, o clube diz que todas as entradas foram vendidas, mas ainda espera algumas confirmações de transações por cartão de crédito para sócios.

De 2005 para cá, a maior capacidade que São Januário não teve o Vasco envolvido: foi na final da Copa do Brasil de 2005, no jogo em que o Paulista de Jundiaí foi campeão em cima do Fluminense diante de 25 mil pessoas. O Cruz-Maltino aparece no segundo lugar da lista em diante. O último grande público do estádio foi em 2008, quando o time recebeu o Vitória na rodada final do Brasileiro. Ao todo, 22.152 torcedores foram empurrar o time na tentativa de escapar do Z-4, mas a derrota por 2 a 0 decretou o primeiro rebaixamento da história do clube.

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Fonte: GloboEsporte.com

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