Bola num lado, goleiro no outro: tática de Nenê em pênalti dá certo no Vasco

A torcida do Vasco já sabe: bola na marca da cal com Nenê é sinal de que pode comemorar. Principal jogador na arrancada do Cruz-Maltino no segundo turno do Campeonato Brasileiro, o camisa 10 converteu todos os seis pênaltis que teve no clube. Recentemente, ele alegou não se lembrar da última cobrança que desperdiçou. A certeza dos vascaínos contrasta com a incerteza dos adversários. Para qual lado pular? Na maioria das vezes, eles nem saem na foto. Goleiro de um lado, bola do outro: foi assim com Vanderlei, do Santos; Rogério Ceni, do São Paulo; Vagner, do Avaí; e Paulo Victor, do Flamengo. Weverton, do Atlético-PR, tentou uma estratégia diferente e ficou esperando no meio do gol, mas foi em vão. Victor, do Atlético-MG, foi o único por enquanto que acertou o canto, também sem sucesso.

Há uma espécie de manual para as cobranças de Nenê. Distância tomada até a linha da meia-lua, deslocamento em velocidade, quebra de ritmo ao chegar perto da bola e batida rasteira no canto – a exceção foi uma finalização mais forte à meia altura quando Weverton ficou no meio do gol. O meia não bate sem olhar para a bola, como os grandes cobradores ficaram conhecidos. A tática do camisa 10 vascaíno é observar alguma reação do goleiro no momento de sua “paradinha” e só então definir o lado certo para o chute. Caso não recebe nenhuma pista, ele pode ir pelo histórico, pois já disse que costuma estudar seus oponentes na marca da cal.

A pedido do GloboEsporte.com, o físico italiano Ronald Ranvaud – que analisa pênaltis desde 1994 inspirado pela cobrança para fora de Baggio que deu o título ao Brasil na final da Copa do Mundo -, do Laboratório de Fisiologia do Comportamento do Instituto de Ciências Biomédicas da USP (Universidade de São Paulo), estudou a estratégia de Nenê. Apesar de não considerá-la ideal, ele enxergou na tática uma complexidade maior para os goleiros completarem o que classifica como as três fases da defesa, que são: 1) ler pelo comportamento do cobrador a direção em qua a bola irá; 2) acertar o momento em que saltar, nem cedo demais para não dar bandeira, e nem tarde demais para chegar na bola se ela for rápida e no canto; 3) movimento dos braços e pernas, ajustes finais para intercepção supondo que o salto foi na direção certa.

– Achei muito legal a estratégia do Nenê! A quebra de ritmo na aproximação (acho que é mais isso do que propriamente uma paradinha) é genial. Dificulta muito a tarefa do goleiro, que programa o salto segundo o pique inicial, mas na hora de executar o programa ele tem que reprogramar por conta da alteração no momento em que a bola vai começar seu voo. Isso fica bem evidente na pouca eficiência do salto do goleiro e da segunda e da terceira fase da defesa – explicou o especialista, que acredita que o vascaíno consegue apresentar uma conduta que leva o goleiro a ler mal a direção em que a bola irá.

– Ele realmente tem um estilo maravilhoso e diferente do que nós recomendamos.

Ranvaud defende a teoria do pênalti perfeito, cobrado a no mínimo 80 km/h, a cerca de 90cm de uma trave e próximo de 80cm abaixo do travessão. Além disso, segundo o físico, o jogador precisa tomar uma decisão antes de bater na bola, caso contrário “a programação motora vai ser feita com pressa, o chute não vai ter precisão, e a chance de errar é grande”.

Outro especialista no assunto, só que dentro do campo, é Geovani, ex-vascaíno que segue acompanhando o clube à distância, em Vitória, capital do Espírito Santos, onde reside. O craque cruz-maltino dos anos 80 tinha o estilo de cobrança sem olhar para a bola, observando só o goleiro, e foi considerado um dos melhores batedores de pênalti do Brasil. Apesar das táticas distintas, ele tirou o chapéu para Nenê e espera que o aproveitamento dele continue em 100%.

– Eu tinha essa maneira de bater (sem olhar para a bola). Quando goleiro não se mexia, eu aumentava a passada e chutava forte para não dar tempo de ele chegar. O Nenê deve treinar para caramba, não é fácil bater nos jogos decisivos. O segredo sempre é estar concentrado e treinado. Estou achando ele muito tranquilo. Para deslocar o goleiro sempre é porque está treinado. Os goleiros não sabem onde ele vai bater, muda de canto sempre. Que ele continue assim – vibrou o ex-jogador, que alegou que na sua época não era necessário estudar goleiros das outras equipes.

– O convívio é que faz você ver como que vai bater. Treinava com goleiros de nível muito alto, como o Régis, o Acácio e o Mazaropi.

Fonte: GloboEsporte.com

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