Eurico assume responsabilidade pela queda e diz que Jorginho continua

Menos de 24 horas depois do terceiro rebaixamento do Vasco na Série A do Brasileirão, Eurico Miranda concedeu entrevista coletiva na sede do clube, em São Januário. O presidente assumiu total responsabilidade pelo rebaixamento do time e disse que a queda é uma mancha em seu currículo. Ao mesmo tempo, jogou a culpa pelo fracasso no que classificou como ”terra arrasada”, forma que diz ter encontrado o clube após a gestão de Roberto Dinamite.

Em uma hora de entrevista, Eurico falou sozinho na mesa da sala de imprensa de São Januário. Sob os olhares de seus vice-presidentes e de muitos jornalistas, o presidente lamentou a situação financeira do clube, anunciou a permanência do técnico Jorginho e do auxiliar Zinho, com quem se reuniu antes da coletiva, descartou qualquer afastamento da presidência do Vasco, criticou muito a arbitragem do Campeonato Brasileiro e comentou a famosa frase sobre a Sibéria.

– O único responsável pelo rebaixamento do Vasco sou eu. É uma mancha irreparável no meu currículo de 50 anos de clube. Eu esperava não ter de passar por essa situação. Encontrei o Vasco em um quadro que a gente pode classificar de terra arrasada. Achei que era uma situação difícil, mas foi muito mais difícil. Esse cidadão Roberto Dinamite passou sete anos no Vasco e não recolheu um centavo de imposto, um centavo de fundo de garantia, fora outras situações, mas basicamente essas, e me deixou ao assumir com três meses de atraso de salário, não só jogadores, mas do quadro funcional – disse Eurico.

Depois de confirmar a permanência da comissão técnica, o presidente comentou a situação de Nenê, que tem contrato até o fim de 2016. Segundo ele, o apoiador só deixa o Vasco para jogar no exterior.

– Já conversei com Jorginho e Zinho. O Nenê sair para o Brasil, nenhuma chance. Para o exterior, se for bom para ele, sou obrigado a cumprir.

O presidente Cruz-Maltino também falou sobre suas frases de efeito ao longo da temporada, como quando disse que iria para a Sibéria caso o Vasco realmente fosse rebaixado, e quando dizia que “comigo o Vasco não cai”.

– Vou logo, para satisfazer a todos, os mais afoitos, porque eu tenho algumas frases, e frases de efeito. Não só é meu estilo, como que pela necessidade, eu tinha e tenho obrigação de levantar a autoestima para essa instituição. Todos ouviram e gostam de falar sobre isso, que eu afirmava que comigo o Vasco não cai. Evidentemente que você traz uma responsabilidade para você, mas levanta a autoestima. O Vasco continua e continuará sendo respeitado.

O elenco do Vasco se reapresenta no dia 6 de janeiro para a pré-temporada de 2016.

Confira a íntegra da coletiva:

”Terra arrasada”

– É evidente que esse tipo de coisa, quando a gente planeja e é o que todo mundo gosta, que é um time de futebol, não havia a menor condição da gente, sem regularizar essa situação, fazer os investimentos que seriam necessários para ter um time competitivo. A primeira coisa foi regularizar essa situação. Depois disso, ao regularizar essa situação, se isso tudo estivesse resolvido os nossos problemas, para que nós pudéssemos nos focar no futebol, no investimento do futebol, nós começamos a ter inúmeras surpresas, que apareciam débitos que precisavam ser sanados de qualquer maneira, vou citar só um: água. Tive que fazer parcelamento na ordem de 10 milhões de reais. Para não citar outros. Para demonstrar como se encontrou aqui uma terra arrasada.

Situação financeira

– E eu, que vejo muito mais a instituição do que qualquer outra coisa, tive que me focar para que a gente tivesse essa situação regularizada. Hoje posso dizer que o Vasco tem a sua situação fiscal plenamente regularizada, seus impostos são recolhidos normalmente, fundo de garantia recolhidos normalmente, e os salários estão em dia, até antecipados. Todo o quadro funcional já recebeu primeira parcela do 13º e o mês de novembro. E por que foi feito isso? Porque aprovam leis neste país e não as aplicam. Tem uma lei que diz que você para disputar uma competição tem que ter salários e impostos em dia. Aí você vê, alguns podem cuidar de outra coisa, deixar de pagar, não tem consequência. Nós tivemos essa obrigatoriedade.

Arbitragens

– Se mais não fosse, pode ser que tenha tido clubes prejudicados, mas ninguém foi mais pela arbitragem do que o próprio Vasco. Culminou para mostrar que isso era uma constante até no último jogo, tem um pênalti que não foi duvidoso porque todos disseram que foi, e não foi marcado. Evidente que isso foi em função de quê? Apesar de termos alertado, colocado por parte da CBF, nenhuma providência foi tomada. Eu digo isso não para justificativa minha pessoal, porque eu não uso desses artifícios. Falo isso em homenagem a um grupo de jogadores que se dedicou, à uma comissão técnica que se dedicou e que no final não teve o seu objetivo concretizado.

Responsabilidade

– Então eu quero deixar absolutamente claro e vou repetir: não passo a responsabilidade para ninguém dessa queda do Vasco, a responsabilidade é minha. Só estou fazendo algumas considerações porque tenho dever com a instituição, muito mais do que com a torcida do Vasco ou qualquer um. A instituição está muito acima de qualquer outra situação. Eu sei perfeitamente que eu não sou uma figura simpática aos críticos, até porque eu tenho por base comigo que só aceito a crítica daqueles que um dia sentaram na cadeira que eu sento. Não precisa ser na presidência, mas que algum dia administraram um clube de futebol, que conheceram dos problemas. Quero deixar aqui absolutamente registrado que atribuo a responsabilidade a minha pessoa, porque a demonstração que os jogadores e a comissão técnica me deram me deixou absolutamente satisfeito. Não quero que eles tenham nenhuma parcela de responsabilidade e culpa de algo que não queria levar comigo, mas vou ter que levar o fato de ter acontecido esse rebaixamento.

Criticas

– O Vasco foi vítima de um ex-jogador. Pode ter sido ídolo, grande jogador, mas como administrador foi uma lástima, uma lástima. E aproveitando que tem outros ex-jogadores que viram críticos, claro que não vão receber nem 10% do que receberam jogando futebol, mas hoje se afloram em críticos e passam a falar uma série de baboseiras de quem desconhece tudo. A única coisa que não vejo, deve ser algo de bom na imprensa, que é corporativismo. Jornalistas que tem que frequentar faculdade são obrigados a se submeter a ex-jogadores e passam a ser os grandes personagens da crítica. E ainda tem que bater cabeça.

Saúde

– Só queria fazer também uma observação porque a gente fica vendo uma série de comentários a respeito. Têm uns que afirmam que eu vou fazer tratamento nos EUA, outros que estou andando com dificuldade, cada um afirma uma coisa. Eu estou bem. Posso não estar 100%, até normal, mas estou bem. Nada que impeça que eu continue a honrar o compromisso que assumi a partir do ano passado. Então, aqueles que esperavam que eu pudesse chegar aqui querendo dar um tempo, me afastar, nenhuma chance. Vou ter que carregar isso para mim, e o Vasco sem dúvida nenhuma, sem nenhuma frase de efeito, vai retornar no lugar que é dele com certeza absoluta. Em termos esportivos pela Segunda Divisão, e talvez algumas coisas mais importantes venham a acontecer. Mas o comando continua, tenho a solidariedade de toda a diretoria e vamos continuar, dar a volta por cima. Para mim não é fácil em termos pessoais, porque é algo que esperava meu ciclo e isso não ter acontecido comigo.

Erros

– Erro foi a gente não ter recursos para fazer lá atrás o investimento que a gente precisava fazer. Tinha três meses de salário atrasado, impostos atrasado… Como ia contratar. Não tenho uma dívida nessa nova administração. Edmundo está recebendo R$ 3 milhões. Quem fez essa dívida? O erro básico foi não ter condições de fazer o investimento no futebol que a gente precisava fazer.

Problemas

– Os problemas persistem. Fez um ano que assumimos a presidência. Vou cumprir o que eu necessito. Agora a gente tem tempo de se planejar, sem ter a preocupação de resolver salários atrasados. A primeira coisa é voltar para a Série A, mas podem surgir outras conquistas.

Celso Roth

– Não jogo responsabilidade e não considero erro. Veio porque eu considero de primeira linha. Doriva foi campeão e depois não conseguiu resistir. Só foi feita uma pergunta para contratar o Jorginho: ”Você acredita?” Ele sabia a situação. Trabalho foi bem realizado, mas não deu. Depois do bolo feito, alguém pode dizer que faltou açúcar. Não adianta falar agora.

Permanência dos principais jogadores

– Martín é jogador do Vasco, Nenê também. Ambos têm contrato. Claro que só continua se quiser. Para sair precisam ser liberados. Não tenho esse interesse. Não preciso estar preparado (para boas propostas). Nesse caso depende da liberação. Não estou preocupado com a queda de receita. Administrei durante um mano sem receita. Quando disse que era um ”milagre vascaíno”, era porque assumi com todas as receitas comprometidas. Para o Brasil, nenhuma chance de o Nenê sair. Para o exterior, se for bom para ele, sou obrigado a cumprir. Muitos jogadores do elenco estão terminando o contrato e estamos pensando em enxugar. Temos 43, é um problema para qualquer treinador.

Sibéria

– Disse que se caísse iria morar lá para ficar longe. Se não fossem as razões que levaram a isso, se eu não tivesse a minha justificativa pessoal, não ficaria aqui nem mais um minuto. Nem precisava ir para Sibéria. Tem gente que ficou triste porque queria me acompanhar. Quando atribuo a responsabilidade, não é a culpa. A culpa acho que já foi explicado porque não se pôde fazer o investimento necessário. Atribuo a culpa ao fato de como encontrei o Vasco. Era terra arrasada.

Dinamite

– Dinamite não tem culpa direta ou indireta. Teve culpa no dia que pensou em assumir o Vasco porque só fez lambança.

Auditoria

– Auditoria é um outro problema. Está paga, mas não pode fazer por falta de documentos. Continua em curso. A empresa é a Ernst & Young. Não recebi nem a primeira parcela da Caixa. Não quero receber porque não vou dar dinheiro para vagabundo. Deixa eles lá. Comigo vão sofrer para receber.

Fluminense

– Não quero responder sobre a postura do Fluminense. Não influenciou e nem influencia nada em relação ao Vasco. Eles que continuem com a postura que acham que devem ter.

Plano de sócios

– Plano de sócios foi outro problema. Muita gente pergunta. Mas existiam contratos altamente lesivos ao Vasco que tínhamos de esperar acabar. O plano de sócios vai acontecer.

Fonte: GloboEsporte.com

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