Jorge Salgado classifica explicações da empresa do VAR como inaceitáveis

O Vasco não ficou satisfeito com as explicações dadas pela Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e pela empresa que opera o VAR em relação aos episódios ocorridos na derrota por 2 a 0 para o Internacional, e pretende ir até as últimas consequências com o pedido de anulação da partida feito ontem (16) no Superior Tribunal de Justiça Desportiva (STJD).

Em entrevista exclusiva ao UOL Esporte, o presidente do clube, Jorge Salgado, classificou como “inaceitáveis” os argumentos apresentados pela empresa Hawk-Eye, que operacionaliza a cabine de árbitro de vídeo e que justificou o episódio da falha do equipamento — na verificação de um possível impedimento no primeiro gol colorado – como um “inconveniente causado pelo baixo ângulo das câmeras, em conjunto com a sombra se movendo no campo”.

“As explicações dadas pela empresa de tecnologia são inaceitáveis. A altura do estádio e as ‘sombras’ no campo são as mesmas de todas as outras partidas jogadas em São Januário no mesmo horário, com o VAR não tendo reportado nenhum problema anteriormente. Nosso Departamento Jurídico fundamentou de maneira sólida nosso pedido de impugnação da partida demonstrando um flagrante erro de direito contra o Vasco. E é esse o resultado que esperamos do STJD, em nome do respeito às normas e à isonomia devida a todos os participantes num certame esportivo”, declarou Salgado.

O dirigente, na mesma resposta, afirmou que o episódio ocorrido em São Januário não está previsto na regulamentação do VAR, e que isso embasa o Vasco na movimentação jurídica para anular o duelo válido pela 36ª rodada do Campeonato Brasileiro:

“Se acompanharmos o desenrolar dos fatos, o que temos é uma sequência de erros assumidos que são justificados através de duas protocolares notas oficiais assumindo o não funcionamento do VAR na hora decisiva e nenhuma providência tomada. Enquanto isso, o Vasco sai mais uma vez gravemente prejudicado de campo. O que se passou no jogo Vasco x Internacional foi algo inédito no Campeonato Brasileiro e não está previsto na regulamentação do VAR”.

Também na mesma resposta, Jorge Salgado sequenciou os acontecimentos que interpreta como equivocados por parte da arbitragem.

“Primeiro a equipe do VAR determinou, antes do jogo, a retirada da câmera da Vasco TV da linha do impedimento para ‘não gerar conflito com o VAR’. Uma câmera que sempre esteve naquela posição nas inúmeras partidas que sediamos no nosso estádio. Na sequência, segundo a empresa que opera o VAR, o equipamento começa a partida funcionando e para de funcionar justamente no lance capital do jogo, um gol em impedimento do Internacional que abre o placar. A arbitragem de campo fica alguns minutos aguardando a revisão do lance, que era obrigatória nessa circunstância, mas a mesma não acontece. E o gol é confirmado em flagrante prejuízo ao Vasco. Ainda mais grave, a empresa responsável pela tecnologia do VAR afirma que o problema com o equipamento teria sido sanado em “poucos minutos”, o que reforça a obrigação do jogo a seguir paralisado até a solução do problema técnico e a devida revisão do lance”, argumentou o mandatário.

Confira abaixo a íntegra da entrevista do UOL Esporte com Jorge Salgado

UOL Esporte: Após o jogo, você conversou com o Walter Feldman, da CBF, e o Rubens Lopes, da Ferj. O que foi conversado? Quais foram os posicionamentos dos representantes destas entidades?

Jorge Salgado: “No domingo, após o jogo contra o Inter, contatei o Walter Feldman e o presidente da FFERJ, Rubens Lopes, para expressar a indignação que o incidente com o VAR causou em todos no Vasco. E também para informar que o Vasco iria buscar seus direitos na esfera administrativa e na Justiça Desportiva. O Vasco foi disparado o clube com mais decisões contrárias em todo o Campeonato Brasileiro, muitas delas injustificáveis. Rubens Lopes manifestou publicamente sua contrariedade com a situação causada pela falha no VAR no próprio domingo”.

UOL Esporte: Alguns especialistas entendem que, embora tenha sido uma falha grave do VAR, juridicamente o Vasco não tem embasamento para anular a partida. Qual é seu pensamento em relação à questão?

Jorge Salgado: O Vasco não vai mais se abster de qualquer reivindicação de direito, em nenhuma esfera. O que aconteceu no último domingo é gravíssimo e precisa servir como ponto de discussão, para que não aconteça novamente, e para que não traga sérios prejuízos aos clubes que confiam na lisura do funcionamento da tecnologia utilizada no Campeonato Brasileiro. A tecnologia não pode ficar em cheque, tem que haver confiabilidade no limite máximo. Um prejuízo desses como é reparado? Como se repara?

Se acompanharmos o desenrolar dos fatos, o que temos é uma sequência de erros assumidos que são justificados através de duas protocolares notas oficiais assumindo o não funcionamento do VAR na hora decisiva e nenhuma providência tomada. Enquanto isso, o Vasco sai mais uma vez gravemente prejudicado de campo. O que se passou no jogo Vasco x Internacional foi algo inédito no Campeonato Brasileiro e não está previsto na regulamentação do VAR.

Primeiro a equipe do VAR determinou, antes do jogo, a retirada da câmera da Vasco TV da linha do impedimento para ‘não gerar conflito com o VAR’. Uma câmera que sempre esteve naquela posição nas inúmeras partidas que sediamos no nosso estádio.

Na sequência, segundo a empresa que opera o VAR, o equipamento começa a partida funcionando e para de funcionar justamente no lance capital do jogo, um gol em impedimento do Internacional que abre o placar. A arbitragem de campo fica alguns minutos aguardando a revisão do lance, que era obrigatória nessa circunstância, mas a mesma não acontece. E o gol é confirmado em flagrante prejuízo ao Vasco.

Ainda mais grave, a empresa responsável pela tecnologia do VAR afirma que o problema com o equipamento teria sido sanado em “poucos minutos”, o que reforça a obrigação do jogo a seguir paralisado até a solução do problema técnico e a devida revisão do lance.

As explicações dadas pela empresa de tecnologia são inaceitáveis. A altura do estádio e as ‘sombras’ no campo são as mesmas de todas as outras partidas jogadas em São Januário no mesmo horário, com o VAR não tendo reportado nenhum problema anteriormente.

Nosso Departamento Jurídico fundamentou de maneira sólida nosso pedido de impugnação da partida demonstrando um flagrante erro de direito contra o Vasco. E é esse o resultado que esperamos do STJD, em nome do respeito às normas e à isonomia devida a todos os participantes num certame esportivo”.

UOL Esporte: Após a partida contra o Bahia, quando também se sentiram prejudicados, vocês foram à CBF. O que a entidade falou na ocasião?

Jorge Salgado: “Meu vice-presidente geral [Carlos Roberto Osório] e o CEO do Vasco [Luiz Mello] estiveram na CBF para ouvir os áudios e rever as imagens dos lances aos quais havíamos protestado naquele jogo contra o Bahia. Uma decisão da arbitragem de campo e do VAR foi reconhecida como errada pela Ouvidoria de Arbitragem da CBF. Um cartão vermelho que teria de ser aplicado contra um jogador do Bahia [Gregore em lance com Benítez], em partida decisiva contra um adversário direto na luta contra o rebaixamento. A avaliação de outra decisão da arbitragem, um pênalti a favor do Vasco, foi considerada inconclusiva, e sabe-se lá como, com tanta tecnologia, não se consegue concluir se algo está certo ou errado. E mais um lance em que a Ouvidoria afirma ter sido apitada corretamente.

A conversa foi longa, sugerindo que fossem repensados alguns aspectos da arbitragem no campeonato como um todo, para que o Vasco tenha as mesmas condições de competição dos demais times. Fizemos ver que claramente o Vasco tem sido o clube mais prejudicado por erros de arbitragem e do VAR no campeonato.

É importante dizer aqui que a gente nunca vai reclamar apenas por reclamar. O Vasco não quer contestar resultados porque perdeu o jogo ou porque não teve sua melhor atuação. O Vasco está tão somente buscando seu direito esportivo de competir em igualdade. Isto está previsto no regulamento da competição. Na prática, não tem sido assim dentro de campo. Basta olharmos as estatísticas. O Vasco precisa ser respeitado e nós continuaremos trabalhando a cada ação duvidosa para que se cumpram as regras”.

UOL Esporte: O Vasco se prenderá somente ao campo esportivo ou cogita também levar a questão para a Justiça Comum caso o clube seja rebaixado?

Jorge Salgado: “Nós participamos de uma competição esportiva, e respeitamos o regulamento dessa competição. Dito isto, o foro que nos compete é do desporto. Temos absoluta confiança no STJD. Nós queremos resguardar a lisura da competição e que nossos direitos sejam respeitados.

Quanto a rebaixamento, ainda existem dois jogos pela frente que nos dão a possibilidade de nos mantermos na Primeira Divisão. Desde que assumimos o Vasco, estamos proporcionando ao Departamento de Futebol todas as condições necessárias que nos cabem para que o time se mantenha na Série A. Nos reunimos com todas as lideranças do clube e desenvolvemos uma medida emergencial chamada de Plano de 15 Dias, que acrescentou outras ações ao que já vínhamos trabalhando. A questão do jogo do Inter está a cargo de nosso Departamento Jurídico. Nossa equipe está blindada dessa controvérsia, focada exclusivamente em vencer as duas próximas partidas. A missão é lutar até o fim para garantir o Vasco na Primeira Divisão”.

UOL Esporte: Como está o andamento do planejamento para a próxima temporada e o quanto essa indefinição do Vasco na Série A interfere?

Jorge Salgado: “Nesse momento, nosso foco e energia estão voltados exclusivamente à luta para manter o Vasco na Série A. Não existe nenhuma prioridade maior que essa. O planejamento para próxima temporada terá início tão logo termine o Campeonato Brasileiro.

UOL Esporte: Como andam as negociações para a obtenção dos fundos que você havia planejado para o início da gestão?

Jorge Salgado: “É de conhecimento público a gravíssima situação financeira que vive nosso Clube nos últimos anos. Um crônico desequilíbrio econômico financiado por recorrentes antecipações de receitas e um exponencial aumento do endividamento do Vasco. Em 22 dias nossa gestão pagou duas folhas de pessoal em atraso e aportou recursos para pagar por serviços essenciais e garantir o clube em funcionamento.

Desde antes de assumirmos a diretoria administrativa, estamos estruturando um produto financeiro do Vasco que, como já falamos anteriormente, segue um trâmite burocrático que envolve o atendimento à exigências das autoridades monetárias e de regulamentação. Estamos nos esforçando para que este projeto esteja à disposição dos investidores entusiasmados a aportar capital em uma operação financeira do Vasco o mais rápido possível. Esse produto financeiro tem por objetivo injetar capital no Vasco a médio e longo prazos, fazendo com que nosso clube finalmente abandone o modelo de financiamento por empréstimos bancários e de pessoas físicas. Nossos processos serão todos, sempre, transparentes e responsáveis”.

UOL Esporte: Já há alguma definição em relação ao vice de futebol? O José Luis Moreira ainda tem participado das decisões relacionadas ao futebol?

Jorge Salgado: “O José Luis Moreira é uma pessoa que já contribuiu muito para o Vasco. Uma pessoa que tem história no clube e, portanto, merece nosso respeito. Ele continua acompanhando o Futebol. Como já falei antes mesmo de assumir, mudanças só serão implementadas quando o Campeonato Brasileiro acabar. Eu não anunciei VP de futebol no dia da minha posse, como fiz com todas as demais pastas, porque assumimos com o Campeonato Brasileiro em sua reta final. Confiamos nas vindas do Alexandre Pássaro, um jovem executivo de futebol que tem uma carreira brilhante pela frente, e no Vanderlei Luxemburgo, que é um treinador com muita experiência e um dos mais vitoriosos do país, para nos ajudarem no objetivo de manter o time na Série A. Ainda temos duas rodadas pela frente e acreditamos firmemente na nossa permanência na Primeira Divisão”.

UOL Esporte: Ficou estipulado algum tipo de premiação caso o Vasco se mantenha na Série A nestes dois próximos jogos?

Jorge Salgado: “Nós implantamos um bônus de resultado pela permanência na Série A. Antes, existia uma premiação por partida vencida, que está mantida, mas nosso objetivo maior no momento é garantir o time na Primeira Divisão. Por isso esse bônus adicional nessa reta final do Campeonato Brasileiro. Foi uma sugestão acolhida por todos e os jogadores, inclusive, abriram mão de parte do valor porque consideraram não estarem sozinhos nessa batalha. Todo o Clube tem trabalhado junto para que o time tenha totais condições de se manter fora da zona de rebaixamento. Portanto, o bônus será direcionado aos jogadores, que dividirão parte dele entre todos os funcionários do Clube”.

Fonte: UOL

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