Há exatos 50 anos, o mundo reservou o dia 2 de abril para receber dois craques com talentos únicos. Edmundo Alves de Souza Neto e Dener Augusto de Souza caminharam durante suas carreiras até chegarem ao Vasco da Gama. O ‘Animal’ e o garoto franzino não jogaram juntos, já que Edmundo foi revelado pelo clube em 1992 e só voltou em 1996. Em um certo período, a camisa 10 que ele poderia ter usado foi envergada por outro expoente daquela geração. Porém, o destino não deixou que esse encontro recheado de genialidade acontecesse.
Dener começou na Portuguesa de Desportos e encantou o Brasil com sua habilidade, velocidade, personalidade e a capacidade de alegrar. Sorriso e muito futebol. Chegou ao Grêmio em 1993, voltou tão logo à Portuguesa e em seguida foi emprestado ao Vasco da Gama. A 10, número comum entre os craques de jornadas diferentes, foi muito bem representada.
Aliás, um outro camisa 10, que enfrentou o Vasco de Dener, ficou espantado com o futebol do menino. Em uma excursão pela América do Sul, o Cruz-Maltino enfrentou o Newell’s Old Boys, que tinha como grande craque um tal de Diego Armando Maradona. D10S, como é carinhosamente chamado pelo mundo, rasgou elogios a Dener. E para o Dener. “Garoto, que técnica você tem. Você é muito bom”. O dia 21 de janeiro de 1994 é marcado até hoje como o dia em que “Maradona se rendeu a Dener”. Imagina só o tamanho desse talento.
Dois anos depois, o ‘Bad Boy’ formado na base de São Januário voltava à casa. E advinha só… A camisa 10, abençoada e regada com a magia de Dener, foi vestida por Edmundo. Animal: apelido que encaixava perfeitamente no ex-camisa 7 do Palmeiras. Explosivo dentro e fora de campo, veloz, habilidoso e com um faro de gol impressionante. Ele odiava perder. Salvou o Vasco do rebaixamento em 1996 e levou o time diretamente para a glória nacional em 1997, o ano no qual muitos vascaínos têm a certeza de que a Bola de Ouro deveria ter estacionado na Rua General Almério de Moura, 131, mais conhecida como Colina Histórica.
Não chegarei a tanto, mas um dos melhores, com certeza. A assombrosa temporada, com direito a 29 gols em 28 jogos e o título do Campeonato Brasileiro, perdura até hoje como uma das maiores atuações individuais da história da competição. Para o Vasco, Edmundo era um Deus. Outros foram até mais vitoriosos do que ele, mas, declaradamente vascaíno, alcançou uma conexão com a torcida que perdura por gerações. É um dos maiores e jamais sairá desta prateleira.
Cinquenta anos. Dá para imaginar um meio-campo com Dener e um ataque com Edmundo? Me pego pensando que, pelo temperamento dos dois, poderia ter saído até briga pela camisa 10. E, após refletir, imagino o sorriso dos dois, lado a lado, desfilando pelos gramados do Brasil e do mundo. Dois craques com jornadas diferentes. Dói saber que só um pode ouvir todos os ‘parabéns’ deste dia 2 de abril de 2021. Porém, torcerei para que, lá de cima, um deles leia não só esse, mas todos os textos possíveis para descrever o impossível que Dener fazia.
Fonte: Coluna Lucas Pedrosa – Jogada 10