Goleiro Fernando Miguel comenta sobre a sua saída do Vasco

Vida de goleiro não é fácil, você já deve ter ouvido isso. Sob as traves, ainda que a modernidade tenha passado a exigir participação cada vez maior, os arqueiros são os jogadores mais isolados e solitários do Esporte Bretão. São os que costumeiramente estão sozinhos quando comemoram um gol, ao mesmo tempo em que estão na imagem de destaque quando sua equipe é vazada.

Fernando Miguel estava em sua terceira temporada com o Vasco da Gama. Havia sido decisivo para evitar o rebaixamento em 2018, quando ganhou espaço na reta final daquela campanha de Brasileirão substituindo o uruguaio Martín Silva, ídolo do clube, mas não conseguiu evitar o descenso em 2020. Em entrevista exclusiva para a Goal, o arqueiro de 36 anos fala sobre a temporada traumática “não só para o clube, mas para os atletas e para mim particularmente” e também lembra dos bons momentos vividos com a Cruz de Malta ao peito, exaltando a paixão da torcida – que em suas palavras “fez muita falta”.

Obstinado em melhorar a cada dia, contudo, seu pensamento agora é o de dar o máximo pelo Atlético-GO, para ponde foi emprestado pelo Vasco e que em 2021 terá uma temporada recheada de compromissos, incluindo sua primeira participação na Copa Sul-Americana. No Dragão, Fernando encontrou um clube que planeja com passos seguros quais serão os movimentos adiante. A longa e agradável conversa também contou com elogios a Leandro Castán, zagueiro do Vasco, a goleiros como Taffarel e Alisson… e rendeu um testemunho interessante sobre o dia em que Fernando Miguel testemunhou “de camarote”, uma das últimas exibições de gala de Ronaldinho Gaúcho. Confira abaixo – e veja a íntegra da conversa em nosso canal no YouTube!

Expectativas para o Atlético-GO em 2021

“Uma temporada bacana, que nós temos aqui no Atlético-GO, então venho com a expectativa aumentada por competições importantes, por ver o clube numa crescente, querendo subir de patamar, se estruturando para isso. Espero, junto com o clube, crescer. Voltar a ter uma boa temporada, fazer e ter boas atuações e estar cada vez mais inserido dentro deste contexto de crescimento e desenvolvimento do clube”.

A chegada ao Atlético-Go e a saída do Vasco da Gama

“Eu não sou um atleta que, simplesmente, quando as coisas não vão muito bem viro as costas e quando as coisas vão muito bem você acha que foi o salvador da pátria, o único responsável pelas boas coisas, pelas boas conquistas dos clubes. Existiu um consenso internamente, entre atleta e clube, para que essa pausa fosse dada, e o meu nome começou a ser inserido no mercado para ver as possibilidades. E quando as possibilidades começaram a aparecer, o Atlético-GO foi a que mais me chamou a atenção, a que mais me motivou e mais me cativou para querer fazer parte, justamente por todo o contexto que eu falei antes: essa mentalidade, este compromisso com o bom futebol, com desenvolvimento, com trabalho, com responsabilidade”.

“Então é um clube que tem caminhado neste sentido de desenvolvimento de futebol. Desenvolvimento sério. Aqui a gente trabalha diariamente com evolução e isso que é cobrado da gente. Dentro das possibilidades eu não tive dúvidas de escolher pelo Atlético-GO”.

Os bons e os maus momentos com o Vasco da Gama

“Talvez o primeiro deles seja aquele momento de 2018, quando eu entro na equipe, num jogo decisivo e importantíssimo contra o São Paulo, em São Januário, em que a gente, se tivesse tomado o gol ali, uma cabeçada do Rodrigo Caio em que eu fiz a defesa, talvez já teria, em 2018 ali, consolidado, ou teria acontecido um rebaixamento com o Vasco. Talvez depois, no ano seguinte, ser campeão da Taça Guanabara dentro do Maracanã em cima do Fluminense. Foi outro ano marcante. Passa um tempo, daí tem a lesão na final do Campeonato Carioca e a equipe começa a patinar, começa a ter dificuldades. Quando eu volto, na oitava ou nona rodada, a gente não tinha vencido no Campeonato Brasileiro. A gente começa um processo de ascensão, de subida, em que a gente ali, se tivéssemos um pouquinho mais ‘de corpo’ talvez a gente tivesse conseguido uma pré-Libertadores naquele ano de 2019. Então os momentos, eles foram bom, eles foram marcantes”.

“Infelizmente, este ano de 2021 terminou de maneira bastante triste. O torcedor e as pessoas acham que, às vezes, o atleta não sente, que não se importa, mas eu levei muitos dias e é algo que precisa ser digerido ainda, tudo isso que se passou no final da temporada. E não tem tempo, né? A gente já vai começar a jogar, e é preciso esquecer e cicatrizar as feridas deste rebaixamento, que foi muito traumático não só para o clube, mas para os atletas e para mim particularmente”.

Qual foi o principal fator para o Vasco ser rebaixado?

“Acredito que a grande oscilação dos atletas, né? É difícil falar a respeito disso, porque parece que você está transferindo (a responsabilidade). Então eu prefiro pensar e chamar algo que é nosso, aquilo que acontece no campo. Tem muitos fatores que levam ao fracasso e muitos fatores que levam ao sucesso que as pessoas não percebem. Muita coisa acontece”.

“Eu também, na reta final, não consegui ser o atleta decisivo que precisava. Então existe a parcela nossa, o meu mau momento que contribuiu para que as coisas não dessem certo e que não acontecesse aquilo que era o mínimo, que era a permanência na primeira divisão. Então a oscilação dos atletas foi algo importante e bastante marcante neste cenário. A gente precisa olhar para aquilo que a gente não conseguiu fazer ao invés de ficar apontando para o que outros deveriam ter feito. Muita coisa aconteceu no processo, e uma delas foi essa oscilação da nossa parte, dos atletas, e eu me insiro nisso também”.

O impacto da falta da torcida para a campanha do Vasco no Brasileirão 2020.

“É difícil mensurar isso. Dentro de um elenco jovem, a gente talvez possa imaginar que esta oscilação pudesse ser até maior. Essa dificuldade poderia ser até maior. Mas eu como atleta, Fernando Miguel, olhando e vendo e pensando e sentido o futebol… o torcedor vai fazer falta em qualquer momento. Seja lutando contra o rebaixamento ou com você lutando para ser campeão de alguma coisa. Ainda mais no Vasco”.

“Aqueles que jogaram com São Januário lotado, que sentiram a emoção e o calor da torcida vascaína, o quanto ela faz bem para a equipe… o Vasco existe pela sua torcida. O Vasco consegue se reerguer justamente pela força do seu torcedor, que não abandona o clube. Eu olho e penso que o torcedor fez uma falta significante para nós neste processo, porque ele era o nosso, pro meu ponto de vista, o nosso carro-chefe, o nosso incentivador, a nossa força. Fez falta sim, mas não pode ser uma justificativa”.

Em sua carta de despedida você disse que o Vasco tem solução e tem saída. Qual é esta solução e esta saída?

“Eu acha que passa por encarar de frente esta realidade, principalmente no sentido de austeridade. Eu vejo que o Campello levou muito a sério isso, ele levou a cabo, cortou muito os gastos no clube, e eu penso que agora com essa gestão, do Salgado, eles estão fazendo da mesma forma. Estão pensando em reestruturar, em enfrentar as dificuldades diárias. Acho que eles estão pagando um preço difícil neste momento inicial, o que é natural dentro deste processo”.

“São pessoas sérias, que estão dispostas a fazerem as coisas darem certo, a voltarem a dar certo no caso, a deixar de ser esta montanha russa de oscilações. Em alguns momentos você vê e imagina que o Vasco vai brigar de novo pelo título, como foi no início da temporada, com a gente batendo o primeiro lugar até a quinta ou sexta rodada do Campeonato Brasileiro, e gerou aquela expectativa, e logo na sequência a gente acaba rebaixado no Campeonato Brasileiro. Isso tem um porquê e tem os seus motivos de acontecerem. E eles estão encarando de frente. Eu fico na torcida, de longe, para que as coisas voltem a dar certo, que eles encontrem este caminho e que superem este momento de dificuldade, e que as pessoas passem a colher os frutos que elas têm plantado dentro do clube, porque são pessoas sérias, íntegras e estão fazendo seu melhor, e o melhor possível para o momento do Vasco”.

Os 5 goleiros preferidos

“Olhando para o nosso cenário brasileiro, não tem como não falar do Taffarel, pelos momentos marcantes dele na seleção brasileira, né? A parte técnica dele era muito marcante. Depois, o Rogério Ceni, que dá mais um salto neste desenvolvimento na forma como se vê o goleiro. Ele deixa de ser simplesmente um defensor e passa a ser um atleta inserido nas ideias de jogo, passando pela frieza do Dida, a grandeza do Marcos…e dá para se falar, também, neste grande salto que deu o Alisson”.

Melhor jogador com quem atuou

“Vou falar a respeito de um cara que conviveu comigo nestes últimos três anos, que é o Leandro Castán. É um cara que, quando você olha para o histórico de vida dele, aquilo que ele enfrentou e aquilo que ele superou e a forma como ele vivia o dia a dia do clube, eu olhava para ele e aprendia muita coisa com ele. É um outro atleta que viveu momentos bons e momentos difíceis, está sendo muito sobrecarregado por tudo o que aconteceu nesta temporada passada. Mas é um cara que eu olho e digo: ‘este cara tem muito a ensinar’. Ele é um grande espelho para os mais jovens, e ele é um cara que estimula até mesmo eu, com 36 anos, que olhava o dia a dia do Castán e aprendia com ele. É um atleta muito marcante para mim”.

Melhor adversário que já viu em campo

“Vou falar um cara… Eu ainda não tinha um espaço de jogar no Vitória, naquele tempo, mas ele era um atleta que, assim, foi impressionante. Eu lembro que estava na reserva do Vitória, o titular era o Wilson, foi em 2013. A gente foi jogar a última partida contra o Atlético-MG, foi no Horto, no estádio do América. E no dia seguinte o Atlético ia disputar o Mundial de Clubes. A gente estava vencendo por 1 a 0 e o jogo estava meio frio, meio sem graça… e aí quando vira o segundo tempo o Ronaldinho começa a jogar”.

“E eu vi o quanto esse cara era talentoso, o porquê ele ser o melhor do mundo por tanto tempo e talvez ficar marcado nessa geração de quem assistiu futebol. Eu não tive a oportunidade de estar dentro de campo contra ele, mas pelo fato de ver, ali próximo, dentro do campo, a capacidade que ele tinha, a técnica, de decidir jogo… é um jogador que eu olhava e pensava: ‘caramba, esse jogador não podia ter parado de jogar tão cedo assim. Deveria ter prolongado um pouco mais a carreira dele’. Então o Ronaldinho foi o cara que eu vi, dentro de campo, um pouco mais próximo, que eu digo: esse cara é sinistro, é muito difícil de jogar contra ele. Ele é uma marca para todos que o observam, que o enfrentam e pra toda uma geração que viu esse craque jogar”.

Sonhos para o futuro

“Quando as pessoas falam do Fernando Miguel, talvez o primeiro ponto que elas falam é que ele tem 36 anos…e aí as pessoas dizem: ‘está em final de carreira, já está para parar, já não tem mais ambição nenhuma…’. Mas eu sou muito pelo contrário. Se for observar minha história, eu passei a ter as melhores oportunidades de 2013 em diante (…) Então eu tenho muita disposição, muito vigor, muita vontade de aprender. Eu tenho muito isso junto comigo, dentro de mim. De querer crescer, querer ser melhor a cada dia”.

Fonte: Goal.com

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