Castan fala sobre os problemas que levaram o Vasco ao rebaixamento

Um dos símbolos do Vasco nos últimos anos, Leandro Castan viveu dias diferentes na última temporada em São Januário. O zagueiro teve notória queda de rendimento, algo que o próprio admite, passou a ser criticado por quem antes o apoiava e esteve com um pé fora do clube após o rebaixamento. Mas ficou.

Após conversas com o diretor Alexandre Pássaro e o treinador Marcelo Cabo, Castan sentiu que ainda poderia ser útil, aceitou reduzir seu salário e vai disputar a Série B.

Em entrevista ao podcast GE Vasco #117, o capitão vascaíno abriu o coração, reconheceu que “morreu fisicamente” na temporada passada e perdeu sua liderança e influência no vestiário. Castan não se esquivou de apontar erros internos que levaram o clube ao quarto rebaixamento de sua história. A queda, segundo o zagueiro, já se anunciava desde o início de 2020.

Queda desenhada em janeiro de 2020: “Tudo errado”

– Para falar de 2020, tem que começar antes da pandemia. Começou tudo errado naquele início quando perdemos o Vanderlei. A gente se reapresenta com meses e meses de salários atrasados, mas antes de falar disso quero colocar um ponto: acho que o principal culpado do meu ano ruim fui eu mesmo. Eu não coloco a culpa em ninguém. Chegou um momento do ano em que fisicamente eu morri, não conseguia mais jogar, não tinha mais força.

– Quando a gente volta no início de 2020, com todos os salários atrasados, lembro que, em fevereiro ou março, tivemos reuniões com Campello. Falei bem claramente para ele: “Presidente, se a gente não mudar nesse ano aqui, vai dar ruim para a gente”. Porque em 2018 aconteceu isso, em 2019 a gente teve tempo de escapar. Quando a gente se reapresentou em 2020, com um monte de gente não querendo se reapresentar e uma confusão danada, senti que ia dar problema.

Castan lembrou que, quando o Vasco voltou aos treinos após a paralisação em razão da pandemia, havia jogadores que não queriam se reapresentar. Naquele momento, Castan disse aos companheiros que deixaria de ser capitão se o elenco inteiro não retornasse às atividades.

– Eu tinha sete meses de imagem de atraso e quatro na carteira. Quando a gente se reapresenta, foi o momento, falando fora de campo, onde passei a perder minha liderança dentro do clube. Realmente me calei porque não me sentia mais líder daquele grupo e sentia que não tinha mais moral para falar alguma coisa com eles.

– É marcada a reapresentação, tinha uma conversa de que não íamos nos reapresentar enquanto o clube não pagasse. Foi o momento em que comprei a briga da diretoria. Falei para eles que, se não quisessem se reapresentar, eu não seria mais capitão do time. Mesmo a diretoria estando errada, acho que a gente tinha de voltar e treinar. Naquele momento todo o grupo comprou a briga comigo e disse: “Castan a gente vai voltar por você”. E volta.

O zagueiro afirma que a diretoria não cumpriu o que prometeu ao grupo na volta aos treinos. Por isso, ele resolveu se calar dali em diante.

– A gente volta, faz acordo com o clube, tem bom início com Ramon, começa a sonhar com coisas grandes finalmente. De repente, começa tudo a desandar de novo, o salário começa a atrasar de novo. Começo a sentir que todo mundo passou a me olhar assim: “E aí, Castan?”. Senti que não tinha mais o que falar e para onde defender alguém.

O ano de 2020 foi tão negativo que Castan revela ter pensado em aposentadoria após a goleada sofrida em casa diante do Ceará, por 4 a 1, em 30 de novembro.

– Acho que foi aquele Vasco e Ceará em São Januário (pior jogo com a camisa do Vasco). Cheguei em casa muito mal, comecei a refletir sobre parar de jogar futebol. Porque não conseguia, você pensa e o corpo não vai. Foi um momento muito ruim para mim – afirmou.

Confiança no novo comando de futebol

Ao ser questionado sobre o que mudou em relação à diretoria anterior, liderada por Alexandre Campello e com André Mazzuco à frente do futebol, Castan ressaltou que vê comando no departamento de futebol este ano.

– No ano passado, a gente ficou no fundo do poço, não tem como ficar pior. Tem gente que vai ficar p… comigo com o que vou falar, mas a grande diferença para o ano passado é que a gente sente que comanda. Tem alguém que manda. Quem manda não tem que ser o capitão do time. Para mandar numa empresa, se falar uma coisa uma vez e não acontecer, você não tem como ser o chefe. Hoje as coisas que são faladas estão sendo cumpridas. No ano passado, batemos no fundo do poço. Olho para cima agora e vejo luz no fim do túnel – diferenciou, referindo-se ao novo executivo, Alexandre Pássaro.

Mudanças de Cabo em relação a Sá Pinto

Leandro Castan também abordou a infecção de Covid, que “deu um reset em sua forma física”, e criticou Sá Pinto, penúltimo treinador do Vasco antes do rebaixamento. Segundo ele, faltou conhecimento sobre o futebol brasileiro e tato com o elenco, principalmente em relação aos mais jovens.

– Eu falar que não teve problema de relacionamento é até estranho, mas não teve mesmo. O relacionamento no clube não era ruim, mas em campo não estava andando. Não teve ato de indisciplina, tirando o desentendimento com o Fellipe Bastos. Acho que não deu liga. Ele não conhecia o nosso grupo, e eu falei isso para ele. Não conhecia o futebol brasileiro. Falo tranquilamente porque falei isso na cara dele. “Professor, você não é culpado porque você não conhece o nosso grupo”.

– O principal erro do Sá Pinto foi o que eu falei para ele. Falei para ele que o nosso time não consegue jogar porque você não dá confiança para os meninos. A gente olha para o banco, e você está sempre gritando desesperado. Nosso time era chutão para frente e não conseguia jogar. Falava: “Se eu, com 34 anos, não estou conseguindo jogar, imagina os garotos”. O Pec hoje está em ascensão, jogando muito. Não tem como eu não falar para o ano passado. Treinamentos do Cabo são bola no chão e “joga, joga, joga”. Isso tem se mostrado nos jogos. Nosso time está crescendo, e esses meninos, que são o futuro do Vasco, estão crescendo.

Mensagens de carinho sobressaem na fase ruim

Apesar das críticas sofridas pelas atuações ruins na temporada 2020, Leandro Castan coloca o Vasco como um dos três clubes mais importantes de sua trajetória, principalmente após o acolhimento ao chegar da Itália, onde viveu um drama ao remover um tumor do cérebro. No próximo sábado, contra o Madureira, o Gigante da Colina se tornará o clube pelo qual mais jogou profissionalmente, com 111 partidas, mesmo número que registrou no Corinthians.

– O Vasco com certeza está entre os clubes mais importantes da minha carreira. Não tive muitos clubes, mas sempre me identifiquei com o clube no qual cheguei. Sempre fiquei pelo menos uma temporada inteira. O Vasco com certeza é o clube que eu posso dizer que está dentro do meu coração. Existem três times com que sou identificado, que com certeza têm meu respeito e moram dentro do meu coração. Um deles é o Vasco, por tudo que aconteceu na minha vida pessoal, na minha saúde, por ter aberto as portas, pelo carinho que recebi desde o começo e que recebo até hoje.

– Às vezes a gente só olha as coisas ruins. Mesmo passando por esse ano tão difícil como foi o do ano passado, as mensagens de carinho são maiores que as para te jogar para baixo. Receber crítica é uma coisa, mas quando você recebe coisas para acabar com seu caráter te joga para baixo. Recebi muito carinho da torcida e, com certeza, o Vasco mora no meu coração.

 

Fonte: ge

Notícia anteriorAssista ao programa ‘Rosalinas de Norte a Sul’ a partir das 21h30
Próxima NotíciaJogadores levam trote e têm cabelo raspado