Salgado garante que Vasco é viável e admite dificuldade em reforçar elenco; confira outros tópicos da coletiva

O Vasco vai tentar melhorar, porém, sem fazer drásticas mudanças. Em uma rara entrevista coletiva, o presidente Jorge Salgado fez um balanço do momento do clube dentro e fora de campo. Defendeu a gestão que assumiu em janeiro, garantiu que a administração é viável, apesar da execução de R$ 93,5 milhões em dívidas trabalhistas, e admitiu a dificuldade em reforçar o elenco que luta para o acesso à primeira divisão e ocupa a 11ª posição na Série B.

Acompanhado de colegas de direção, entre eles o diretor executivo do futebol, Alexandre Pássaro, o mandatário vascaíno reconheceu a necessidade de contratar jogadores – os dois, aliás, afirmaram estar satisfeitos com o trabalho de Lisca. A situação, porém, não é nada fácil.

– Do ponto de vista de reforços, não é um cenário confortável para o Vasco. Encontramos dificuldades nas negociações por uma série de razões, não só salarial. Às vezes, o próprio clube do outro lado não cede o jogador. A gente precisa reforçar o nosso time, mas a limitação financeira é muito grande. Está difícil, mas estamos buscando soluções – disse Salgado.

Desde que assumiu, Salgado implementou uma política de austeridade dada a crise financeira – a receita do clube caiu em cerca de R$ 100 milhões dado o rebaixamento e havia cinco folhas salariais em atraso. Além de rescisões e liberações de atletas, o clube demitiu funcionários. O presidente afirmou ter recebido o “cofre zerado”, o que, segundo ele, não permitiria fazer grandes investimentos no time para ter um caminho de retorno à Série A mais tranquilo. Neste particular, Pássaro pediu a palavra e externou a sua visão sobre o tema.

– Se o investimento fosse uma certeza absoluta de sucesso, seria fácil, qualquer um poderia fazer futebol. Não é assim, e a gente vê inúmeros exemplos nesse sentido. No ano passado, chegaram jogadores que a gente paga até hoje. Vamos agir com assertividade, tentando errar o menos possível, nos comprometendo com o que a gente pode fazer. Além disso, por mais que você queira fazer o investimento, nem sempre podemos controlar essas decisões. Porque a herança que temos é muito pesada. Queremos reforçar o time, estamos sempre conversando – contextualizou, para completar:

– Nessa semana, tínhamos um jogador que estávamos fechado com ele e com o clube aqui do Brasil. Só que ele estava cedido por um clube de fora. E o clube de fora preferiu deixar o jogador no banco para não jogar a segunda divisão. Esse é o tipo de barreira que a gente enfrenta. Não depende só do nosso desejo, da nossa força. Quebramos essa barreira algumas vezes, e vamos continuar quebrando.

O regulamento da Série B permite novas inscrições até 30 de setembro. A janela para atletas vindos do exterior fecha em 30 de agosto.

Além de Salgado e Pássaro, outros dois dirigentes participaram da coletiva. Foram eles o segundo vice Roberto Duque Estrada e o CEO Luiz Mello.

Mais respostas da coletiva

Presidente Salgado, o Vasco é viável financeiramente?

Sem dúvidas, não sei de onde pode passar pela cabeça de alguém que o Vasco não seja viável. O Vasco é um clube totalmente viável. Vivemos um momento de dificuldade, a herança foi desastrosa, mas estamos trabalhando com afinco para resolver os problemas que encontramos. Estamos tirando da frente uma série de problemas, avançando em questões. Temos certeza de que vamos conseguir resolver o que nos aflige.

Presidente Salgado, o senhor está satisfeito com o desempenho do futebol?

Você sabe que futebol não é ciência exata. Você segue planejamento, tem certeza que está fazendo as coisas certas, mas muitas vezes as coisas não acontecem. No último jogo tínhamos o controle do jogo e de repente a vitória nos escapou. Do ponto de vista de satisfação, na medida que você perde dois jogos, satisfeito a gente não está. Não vamos fugir das nossas convicções. Dentro da nossa realidade, se a gente puder ir ao mercado, irá. A gente acredita no que está fazendo. Às vezes o resultado não aparece no curto prazo, mas a gente acredita que pode acontecer.

Presidente Salgado, o Vasco não pode investir mais?

Essa comparação é difícil de se fazer porque as premissas não são iguais. Das outras vezes que caiu, o Vasco desceu com cota de Primeira Divisão. Se acontecesse o mesmo, eu teria orçamento de R$ 230 milhões para investir. Esses R$ 230 milhões que tive no passado se transformaram em R$ 100 milhões. Então você pode ver a dificuldade de a gente se ajustar a um orçamento. É como se você tivesse um decréscimo de 60% do seu salário no seu orçamento familiar. Se a gente pudesse receber o mesmo que das outras vezes recebeu, obviamente não teríamos a mesma dificuldade.

Pássaro, como avalia a performance da equipe?

Tem questão de performance menor, isso é óbvio e claro. A gente tem trabalhado para mudar esse cenário. Além da questão de receita, tem a nossa torcida. O Vasco sempre se apoiou na sua torcida. Hoje conhecendo mais o Vasco internamente, não são as finanças ou o patrimônio que sustentam o clube. A torcida quem sustenta. A torcida não pode estar no campo. Todo mundo fala disso de quem vem jogar aqui. Acredito que o Vasco teria maioria de torcida em 85% dos jogos. Essa questão da torcida não estar presente tem feito uma diferença gritante. É uma premissa anterior. Com o dinheiro que foi dado, o que a gente pode fazer na sequência do clube? Todo mundo está com menos pontos querendo ou não. Os líderes estão com menos pontos. Se a gente não tivesse jogado pelo ralo esse nosso resultado com o Londrina, estaria no quinto lugar. Agora é ganhar jogos e chegar à nossa meta de pontos com menos sofrimento possível.

Pássaro, o Vasco está satisfeito com o trabalho do técnico Lisca?

Na verdade, estamos satisfeitos com os trabalho do Lisca, mas não estamos satisfeitos com os resultados. Se tínhamos convicção no trabalho do Lisca naquele momento, temos ainda mais agora. Conhecendo agora mais de perto, temos ainda mais convicção. Tudo que o treinador quer é semana cheia e tempo para trabalhar. Poder descansar os jogadores, mas também poder dar uma carga maior. O treino de ontem foi amistoso contra o sub-20. Hoje o treino é mais leve, mas a partir da semana que vem teremos três semanas cheias. Dependendo do calendário da CBF, poderemos ter 13 dias entre um jogo e o outro. A gente precisa utilizar esse tempo da melhor maneira possível. Quanto a isso, estamos completamente convictos do trabalho dele. Nossa responsabilidade é total. Sempre estive aqui nessa mesa em todas as apresentações. A divisão de responsabilidade dentro do departamento de futebol não existe. Lisca é 100% responsável pelo time, assim como eu sou, assim como o médico é na área dele.

Presidente Salgado, o time do Vasco é sem alma?

Você disse que parece que eles perdem e está tudo bem e não acontece nada. Discordo um pouco dessa sua afirmação. Sinto exatamente o contrário dos jogadores, que ficam bastante aborrecidos quando perdem os jogos. Ninguém pode ter reação positiva logo após uma derrota. Se vocês têm essa impressão de longe, eu de perto não tenho. A gente sabe que uns sentem mais, outros sentem menos. Alguns são mais cascudos, outros mais jovens, mas não passa pela cabeça do jogador essa conduta de não sentir a derrota. Essa sua visão é completamente diferente da minha.

Presidente Salgado, o senhor vai nomear algum vice de futebol?

Quando a gente estudou o organograma do futebol, tinha sim uma posição de alguém mais acima de comando, mas no decorrer do processo, conversando, entendemos que podíamos abrir mão dessa pessoa. Até por razões econômicas. Num primeiro momento a gente abriu mão, quem sabe num futuro próximo a gente pode recompor isso. O único cargo que ficou vago é esse (VP), que na minha visão não é uma função tão relevante. A gente vê casos de ex-jogadores que exerceram essa função e os resultados não vieram. Talvez a gente precise de alguma pessoa mais vinculada ao Vasco para nos ajudar. Talvez a gente executa isso.

Pássaro, o time do Vasco é sem alma?

Na verdade, a distância e a completa falta de conhecimento e percepção do que acontece internamente é quem externa um cenário completamente diferente para os torcedores. Lógico que dentro do campo a gente que entrega, controla esforço, carga de intensidade. A gente quer que os jogadores se dediquem. Olhando um pouquinho para trás o Vasco já teve todo tipo de estrutura. Com VP, sem VP, com gerente e sem gerente. Com ex-jogador e sem ex-jogador. Podemos pegar o exemplo do Fernando Miguel. Externamente ele não prestava para o Vasco e hoje é o melhor goleiro do Brasileiro. Pikachu é um dos melhores jogadores do Brasileiro. O Henrique hoje é titular do Lyon. Do lado que as pessoas tomam para se fazer análise, a gente fica dividido. Metade vai para A, metade vai para B. A entrega existe, ninguém é maluco de trabalhar… Nenhum treinador resolveu problema, nenhum disse que foi embora porque os jogadores não se dedicam. Não há um comodismo, não há falta de entrega, não há falta de respeito com a camisa do Vasco. Houve questão de aglomeração, mas é algo muito mais social e que não se restringe ao Vasco.

Pássaro, teme que o Lisca se demita após abatimento demonstrado em coletiva?

A gente teme que qualquer profissional gabaritado, com bom trabalho, peça demissão. A gente evita isso a todo tempo. Só nos últimos dias tivemos propostas para três profissionais deixarem o clube, e eles prefiram ficar sem que a gente mexesse em salário. Que bom que o Lisca sente daquele jeito a derrota, ele sente demais a derrota. Não vejo como defeito.

Acho que se ele viesse com papo todo animado, não tinha como. Ficamos até tarde aqui. Ele foi o único por questão regulamentar que teve de se expor. Exatamente por causa disso que ele estava daquela forma. A gente entrega os gols em falhas individuais.

Contra o Remo, ele disse que agiu errado estrategicamente, e eu não concordo. Ele não teve controle absoluto pelas ações tomadas. Não temo, pelo contrário. Lisca sempre reforça o prazer e a alegria que ele tem de estar no Vasco. A gente acredita em tudo que ele sempre quis e colocou para nós.

Pássaro explica como é o trabalho de análise do elenco com o Lisca

A gente passou nome por nome do nosso elenco, mas é natural que ele só conhecesse aqui. Se ele tivesse três semanas cheia, conheceria muito melhor. Depois do jogo com o Remo, a gente conversou, e ele falou em características e falou em ir ao mercado.

Fomos em um dos clubes que disputam três campeonatos, ele não está jogando, mas falou que ganharia um bicho enorme com essas competições. É com isso que estamos sofrendo. A gente tem feito de tudo, mas tanto ele quanto eu entendemos que não vai existir um salvador da pátria. A gente precisa melhorar ainda mais. Se trouxermos três jogadores, falamos em 10% do grupo. Precisamos continuar focados nos 90% do grupo para melhorar a performance técnica e física.

Pássaro, a média de idade do time não é muito baixa?

Ele não é obrigado a escalar ninguém, é uma questão macro para a formação de elenco. O que a gente tem que fazer é pegar a média de idade do nosso time. Nesse último, a média de idade foi 26,9. Lembrando que tivemos o Lucão, e ele tem uma diferença de 15 anos para o Vanderlei. Tinha o Ricardo e não o Castan. Normalmente a nossa média de idade gira entre 28 e 29 anos do nosso time.

Se a gente pegar os times que estão na frente, a média é essa. A gente fala em meninos da base, mas Ricardo tem 24, e o Andrey tem 23. Eles já estão na metade da carreira. Há dois anos, ele queria levar Caio Lopes e o Bruno Gomes. O Caio Lopes e o Bruno, que ainda seguem novos, naquela avaliação jogariam no Ceará ainda mais novos.

Se a gente pegar Juninho, Bruno Gomes, Miranda, Graça e Lucão seriam titulares em muitos times de Série A e Série B. Esse número está controlado, mas não garante nada, ele apenas aponta caminhos.

Pássaro, pode explicar a decisão pelo descanso de Lucão após a Olimpíada? Quem foi o responsável por ela?

Eu estava assistindo à coletiva dele (Lisca), e eu bati um papo dele com isso ontem. Ele disse: “Na verdade, eu me expressei errado”. Nessa questão dos dois meninos, depois do jogo com o Vitória, recebemos a programação dizendo que eles chegariam no Rio de manhã depois de 24 horas de voo. A gente tinha jogo na terça, e a primeira decisão foi que eles não tinham como jogar e nem necessidade.

Lucão não vinha jogando, e o Castan vinha jogando. Deixamos o Ricardo Graça de sobreaviso. Quando vamos para o Pará, viajamos com menos estrutura. A gente deixou meio pré-avisado que Ricardo teria que se juntar na quarta de manhã porque o Castan tinha dois amarelos. Castan se lesionou, e isso conversei com Ricardo. Lisca disse que foi um jeito de falar, e as decisões são sempre tomadas em conjunto. Lógico que a situação ficou mais exposta porque o Vanderlei foi expulso, o Halls entrou. A situação não existia naquela altura. A gente faz análise se vale a pena expor o atleta ao desgaste ou se é melhor que o jogador volte no seu tempo. Lucão ficou três ou quatro dias sem treino, mas treinou direto na seleção.

Presidente Salgado, por qual motivo o senhor não cumpriu a promessa de campanha de captar R$ 70 milhões?

Tem dois momentos aí. O momento da campanha e o pós-posse. Durante a campanha, estava começando a pandemia praticamente, e a gente sem saber quando terminaria. Mas com a perspectiva de que terminaria ao longo do ano passado, mas ela perdura até hoje.

Aqueles recursos que a gente tinha como meta captar a gente teve dificuldade. Pela pandemia, mas também pela instabilidade política do Vasco. Afora isso, quando a gente assume, a dívida do Vasco era de R$ 850 milhões. Na campanha, era de R$ 650 milhões. Não é fácil convencer um investidor a colocar os recursos nessa situação.

Você tinha conhecimento de que poderia acontecer aquilo? Não. A gente recebeu o impacto da notícia ruim praticamente quando assumiu. O passivo trabalhista só entrou no último mês da gestão do Campello. Não havia nenhuma indicação dos nossos membros e da oposição de que isso pudesse acontecer.

Tanto que é que estamos apurando esse passivo que entrou no final do ano e alterou totalmente a forma de captação. Uma coisa é você captar com R$ 250 milhões de receita e R$ 600 milhões de passivo. Outra é captar com R$ 100 milhões de receita e R$ 830 milhões de passivo.

Mas, presidente, a gestão não pode oferecer mais soluções?

Obviamente a gente tem a oferecer muito mais, mas a gente está fazendo ajustes na direção de ter muito mais benefícios na frente. Pegamos uma situação nada confortável. Como você vai fazer plano B disputando a Série A e com ela terminando só na última rodada? Você não fez esse ajuste de um dia para o outro. Você tem que rever suas condições para ir ao mercado tomar dinheiro.

O que a gente fez e está fazendo? A gente fez ajuste severo de contenção de gastos. Vamos sair desse buraco simplesmente fazendo isso. Temos ações em andamento para diminuir nosso endividamento. Na medida que isso for acontecendo, você terá melhores condições para ir ao mercado tomar dinheiro. Nas condições atuais, você toma empréstimos.

Fiz um aporte ao Vasco em situação de grande dificuldade. Quando assumi, tinham cinco meses de salário atrasado. Tive de usar recursos meus, já foi até pautado em reunião do Conselho Deliberativo a contragosto meu. Me causa muito constrangimento essa pergunta. Coloquei alguns recursos de maneira relevante no clube, não tenho arrependimento. Se fiz isso é porque poderia fazer. Vou esperar para receber esses recursos.

Mesmo com a falta de recursos e a captação de R$ 70 milhões, a gente avançou muito em honrar compromissos, mas a travessia ainda é longo. Tenho trabalhado incessantemente com a minha equipe por recursos financeiros. Está em análise em duas casas um empréstimo para o Vasco, isso não é feito de uma hora para a outra.

Eu não desisti disso. Está na hora de ir ao mercado para testar o clube em termos de captação para eu não ter que colocar dinheiro. Eu quero tirar a pessoa física do Vasco.

Fonte: ge

Notícia anteriorSalgado: ‘O Vasco tem dois empréstimos sendo analisados’
Próxima NotíciaEx-VP de finanças Carlos Leão: ‘Entrevista da diretoria foi desesperadora pela falta de soluções’