Cria do Vasco, lateral Diego volta ao futebol após 2 anos de suspensão por doping

O ano era 2019. O experiente lateral-esquerdo Diego Corrêa tinha 35 anos e atuava no América de Natal quando recebeu a punição mais severa de sua vida até ali. Um uso eventual de cocaína lhe fez cair no antidoping e o sentenciou a dois anos fora dos gramados. Já veterano, teve dúvidas quanto ao futuro. Mas teve perseverança e contou com ajuda de pessoas especiais para dar fim aquele pesadelo.

E o final veio no último dia 25, em outro America, o do Rio. Diego voltou ao futebol em duelo contra o Friburguense, pela Copa Rio. Em dois minutos, um toque na bola e uma bola na rede, abrindo caminho para vitória de seu time por 2 a 0. Momento de libertação após uma fase tão difícil. Mas será que dá pra chamar de “final feliz”?

Prestes a completar 38 anos, ele vive a felicidade não só de quem apenas vê a luz no fim do túnel, mas também daqueles que ainda querem continuar a escrever a própria história no futebol.

O jogador, cria do Vasco, onde atuou dos 11 anos até completar cinco temporadas como profissional, dono de passagens marcantes por São Caetano, CRB e Macaé, entre outros clubes, conversou com a reportagem do ge sobre o retorno aos gramados, o sofrimento do peso da punição e a capacidade de voltar a ter esperança.

Nome: Diego Pereira Corrêa
Posição: Lateral-esquerdo / Meia
Nascimento: 18/09/1983 – Macaé (RJ)
Clubes: Vasco, Olaria, Goiás, Figueirense, Vitória, Macaé, Bahia, Mirassol, São Caetano, CRB, América de Natal e America
Títulos: Campeão Brasileiro – Série C, (2014, pelo Macaé), Campeão Alagoano (2016 e 2017, pelo CRB), Campeão Potiguar (2019, pelo América de Natal)

O episódio de doping

“Eu ainda atuava pelo América de Natal. Era começo de abril, tudo tava andando da forma que deveria andar. Eu vinha jogando e vinha bem. Mas aí aconteceu o que não devia. Me envolvi com quem não deveria, acabei pagando um preço muito alto, uma situação muito complicada. Só eu sei (respira fundo), só a minha família sabe o que eu passei.

Paguei um preço muito alto, mas superei tudo, tirei força de onde verdadeiramente não tinha. Me dediquei, acreditei que poderia retomar a minha carreira como atleta mesmo passando por isso. E essa não é uma história qualquer, isso mancha o seu currículo. Graças a Deus eu nunca fui usuário. Acabei fazendo isso por recreação e paguei um preço alto”.

O retorno especial

“Não dá pra descrever a sensação, a satisfação. Você olha tudo o que se passou… Foi o primeiro chute, primeiro toque na bola! O tempo perdido, o trabalho suado dos últimos meses para voltar a ser um atleta, isso tudo passou na cabeça. Aconteceu do jeito que foi para coroar esse retorno. Sou muito grato pelo respeito e carinho de todos no clube (America), atletas, funcionários e comissão técnica”.

Entre o último jogo de Diego antes de cair no doping, em 7 de março de 2019 (Santos 4 x 0 América-RN) e a partida de retorno, pelo America do Rio (2 a 0 sobre o Friburguense), em 25 de agosto, passaram-se 902 dias

Medo de não conseguir voltar

“Pensei, claro. ‘Ah, não vai dar mais. Com 37, quem vai te contratar, ainda mais voltando de uma situação dessas?’ Achei que já tinha feito até ali uma carreira legal, bacana, que poderia contar pro pessoal lá na frente. Depois de um tempo, porém, minha família teve papel fundamental na mudança desse pensamento. Foram perfeitos.

‘Você não vai parar, não acabou, você tem lenha pra queimar, sempre jogou muitos jogos por onde passou, não vamos deixar você desistir’. Aí você pensa que, se eles acreditam em você, porque você não acreditaria também? Eles foram fundamentais e não desistiram de mim. São verdadeiramente as pessoas que querem meu bem”.

Pais e heróis

“Dona Janete e Seu Pinho. Minha mãe e meu pai. Sou filho único, saí com 11 anos do interior (Diego nasceu em Macaé) para morar no Vasco. Sempre me deram liberdade. Tem mãe que morre com isso, né? Eu cheguei a ligar, que queria voltar pra casa, que queria estudar, e foram eles que disseram “não, você vai ficar, aí é o seu lugar. Você escolheu e vai jogar até – literalmente – quando te mandarem embora”. Como não colocar essas figuras acima de qualquer coisa? Só agradeço a Deus pelos pais que eu tenho”.

Amigos no futebol

“Vou ser bem sincero. Eu tenho um grupo de amigos que, quando saiu a matéria do doping, me deu força. Gente que já jogou comigo e que hoje está em outras coisas, as vezes até funções diferentes no futebol ou fora dele. Essas pessoas me ajudaram, disseram que era uma fase, se fizeram presentes.

Daquelas com que joguei junto, um ou outro apenas. Conto nos dedos de uma mão. Muito poucas pessoas do meio do futebol ligaram, quiseram saber como o homem Diego estava. A palavra abandonar pode ser pesada, mas poucos procuraram”.

Formado na base do Vasco, onde chegou aos 11 anos vindo do interior do estado, Diego só deixaria a Colina em 2007, com 25. Pelo clube, foram 134 partidas e nove gols marcados

Segurando as contas

“Ao longo da carreira você começa a se organizar. Com 35, você já começa a pensar numa situação de parar e precisa se mexer. Comecei a comprar algumas coisas, mirar imóveis. Foi a forma que consegui sobreviver, me segurar e organizar um pé de meia. Pais sempre juntos ajudando: quando falta, eles suprem”.

America, o recomeço

“Estou muito feliz de estar no America, clube que abriu as portas pra eu recomeçar a minha carreira há três meses. Estamos na Copa Rio, competição eliminatória, e não podemos dar espaço ao erro. Nesse último jogo, conseguimos um bom placar (2 a 0 no Friburguense, no jogo de ida das oitavas de final), mas quem viu a partida viu que poderíamos fazer mais gols, com todo o respeito ao rival.

Fizemos uma pequena vantagem pra jogar em Nova Friburgo (o duelo da volta é neste dia 1º de setembro, no Eduardo Guinle), mas é uma vantagem, mas sabemos que jogar lá é difícil, seja qual for o time deles. O time tem de estar ligado e atento, ainda mais a gente, que tem um objetivo claro. O principal era sair da Série A2 do Carioca, mas não veio. Agora temos que agarrar com unhas e dentes a Copa Rio e fazer o possível e o impossível para colocar o America no cenário nacional. Quando você tem essa tradição, tem de fazer jus”.

O America precisa chegar à final da Copa Rio para disputar Brasileiro Série D ou Copa do Brasil em 2022. Rubros não jogam competição nacional desde 2010

Diego e a molecada

“Sempre que posso ajudar e falar, lembro que futebol é muito bom, pode proporcionar a eles coisas maravilhosas, mas para isso você tem de renunciar a muita coisa. Hoje, você tem de ser um atleta de alto nível, mais que um jogador profissional. Buscar conhecimento, se aperfeiçoar no que é bom e trabalhar muito no que precisa melhorar. Não é vir pro campo, treinar e ir embora. Sempre procuro passar isso pra eles.

Tem de ser intenso, ter dedicação e ir além. Talento eles carregam com ele. Aqui no America, tem Caio (volante), Agu (meia), Marquinhos (ala, atacante)… que talento esses meninos têm, mas têm de botar pra fora, não apenas em um, mas em vários jogos. Prazer de jogar com eles, acredito que em pouco tempo verei eles trilhando uma bela carreira. Mas pra isso, vão ter de se dedicar.”

Meio-campo ou lateral?

“Antes de ser lateral, na base, até aos 20 anos, fui meia. Virei lateral na transição dos juniores para o profissional. Agradeço muito inclusive ao prof. Luiz Antônio (técnico vascaíno no sub-20) que me levou para um campeonato no Japão e chamou para uma viagem. Tinha muito meia canhoto, mas e os laterais. Com o Josué (Teixeira, atual técnico do America), eu já tinha sido meia. No América-RN, com Moacir Júnior, saí da lateral para a meia. Não é novidade, não”.

Relação com Josué Teixeira

“É mais que um treinador, é um amigo. Me abriu as portas para trabalhar novamente. No campo há a hierarquia, mas é um amigo pessoal. Agradeço a Deus pela vida dele, tenho um carinho e um respeito enormes por ele. Foi absolutamente fundamental para aquela conquista com o Macaé em 2014. Muitos clubes sobem, entram no top-4 e largam tudo. Ele sentou com a gente após o acesso e disse:

“Deixaram a gente chegar. Vamos parar por aqui, entregar os pontos?” Decidimos que não, que íamos buscar o título e buscamos. Tínhamos um grupo espetacular, muita dificuldade salarial, mas botamos tudo pra debaixo do tapete para resolver depois”.

Sob o comando de Josué Teixeira, Diego conquistou o Brasileiro Série C em 2014 em campanha épica. O acesso veio contra o Fortaleza, diante de um Castelão lotado, assim como o título, obtido após empate em 3 a 3 com o Paysandu de Yago Pikachu, no Mangueirão

Viveria tudo de novo no futebol?

“Sim, viveria. Passei tanta dificuldade no futebol, engoli tantos sapos, mas com fé de que tudo iria acontecer como aconteceu. Se pudesse, tiraria uma coisa ou outra, como esse episódio do doping, focaria algumas coisas de maneira diferente. Mas até aqui, foi muito bom ser jogador”.

Fonte: ge

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