Confira os bastidores da saída de Lisca do comando técnico do Vasco

A loucura de Lisca foi efêmera no Vasco. Ele chegou com carta, pose e pompa a São Januário. Tirou fotos na sala de imprensa, disse que estava emocionado, pediu a bênção da estátua de Romário e parecia ser a cartada de segurança de um primeiro ano muito conturbado da gestão Jorge Salgado.

Mas durou pouco. Anunciado no dia 20 de julho, Lisca durou um mês e meio no comando do Vasco. Foram 12 jogos, com quatro vitórias, um empate e sete derrotas. O plano de Salgado e do diretor de futebol Alexandre Pássaro ruiu num preocupante cenário a 15 rodadas do fim da Série B.

Os relatos do fim da linha do treinador gaúcho são de início animador, com o tal choque de astral no vestiário – o que contou até mesmo com reunião de todo o grupo para dividir histórias de vida e de superação -, mas de meio e fim da trajetória pela Colina marcados por atritos e desânimo.

O Vasco agora procura um treinador – procurou Guto Ferreira e Fernando Diniz e analisa opções – até o próximo jogo da equipe, no dia 16, contra o CRB, em Maceió. E ainda tenta catar os cacos numa administração que não tem um ano completo e vai para o quarto treinador – depois de Vanderlei Luxemburgo, Marcelo Cabo e Lisca.

Abandonou o… avião

Uma das histórias que explicam a harmonia que ficou pelo caminho entre Lisca e o grupo vascaíno aconteceu no retorno do time de viagem recente. Precavida com possível protesto, a segurança do clube acionou ônibus particular para receber a delegação na pista de pouso e todos esperariam para sair do aeroporto Santos Dumont sem passar pela pista.

Lisca e sua comissão técnica se levantaram e deixaram o grupo para trás. Isto tudo horas depois de assumir a culpa pelos maus resultados e tentar, publicamente, proteger seus atletas. O episódio repercutiu mal dentro do elenco. Impaciente, Lisca também mostrou irritação no dia a dia vascaíno e incomodou atletas. Mesmo com a sensação de descrença na reação do treinador, a direção não pensava na demissão do técnico.

No alto comando do clube, Salgado mudou a rotina. Se não era presença frequente nos treinos, escutou alguns pares e passou a ir mais nas viagens. Seguiu com o grupo, por exemplo, nas últimas duas partidas fora de casa – contra Operário e Avaí.

A relação com Alexandre Pássaro permanece intacta. O presidente tem no executivo de futebol personagem de confiança e acredita na capacidade do jovem dirigente, que saiu de elogios e mimos de torcedores na internet para severas críticas na montagem do elenco – a principal delas a ausência de lateral-esquerdo depois da saída de Henrique e ficar apenas com Zeca e o jovem Riquelme.

O presidente faz as vezes de vice de futebol, na ausência dessa figura, por decisão e visão própria. Em cenário semelhante ao de Campello – que só recorreu a José Luiz Moreira no fim do mandato -, não vê figuras que se encaixem no perfil. Durante a campanha, a Mais Vasco prometeu estrutura com VP no futebol e um CEO do departamento, que seria Paulo Roberto Falcão. No entanto, Salgado abriu mão desse projeto depois da queda para a Série B.

O fato é que o futebol se fecha nas decisões de Salgado, à distância, e de Pássaro, no dia a dia. Evidente que há interlocutores mais próximos, como os dois vice-presidentes gerais Carlos Roberto Osório e Roberto Duque Estrada, mas o poder decisório fica nessas quatro mãos. Distante do “comitê do futebol” montado no organograma de campanha, que ainda teria o vice de finanças, Adriano Mendes, mais um VP e um CEO do futebol. Uma imagem que ficou no slide de campanha.

Projeção furada

Em momento de fragilidade política até com sua base, com críticas à condução do futebol – Salgado batia na tecla de que Campello aplicava mal os recursos do departamento (“Não quero continuar nada do futebol”, ele dizia) e a realidade hoje é de um dos times mais caros da Série B na metade da tabela -, o presidente tenta administrar a crise à sua maneira. Recentemente, recebeu apoiadores e personagens antigos do clube para conversar. Seja em casa, no escritório ou na sala da presidência.

A calma que para muitos o caracteriza – e que para alguns adversários é sinal de inércia – já não estava mais lá. Salgado parecia preocupado e assustado com os rumos do futebol. Mas confiava ainda em reviravolta e no acesso. Até pouco tempo atrás os apoiadores mais fiéis compartilhavam dessa ideia.

– Estamos no caminho certo – dizia, apesar de ressalvas e lamentações, o que incluía a incapacidade financeira para investir mais em contratações e mudar o quadro.

Em suas contas, o Vasco fecharia o primeiro turno com 31 pontos – a projeção que ele fazia anteriormente era de terminar com 32, então não estava distante. Faltava um jogo para fechar o turno e, à noite, o time perdeu para o Londrina com virada incrível no fim da partida, em falhas de Lucão e Ricardo Graça, dois campeões olímpicos de volta a São Januário.

Distanciamento

Enquanto isso, a base política da Sempre Vasco, representada por Julio Brant, se afastou. Depois da boa relação de início de mandato, com aliança para a montagem de conselhos e reuniões da comissão de reforma do estatuto, Brant – que chegou a fazer post elogiando o início do mandato no futebol depois da “conquista” da Taça Rio, a quinta colocação do Carioca – e o grupo se posicionaram publicamente e se colocaram à disposição para ajudar.

Salgado respondeu no Twitter ao tom crítico do antigo aliado – embora opositor, dono de 30 cadeiras no conselho -, que mais adiante novamente se colocou como possível ajudante da atual gestão. Brant tem feito encontros semanais e convidado personagens da política e do futebol vascaíno para almoços nos fins de semana no restaurante do clube. Se movimenta politicamente.

Mais votado na eleição anulada de 7 de novembro, o advogado Luis Roberto Leven Siano participa de diversas lives na internet e critica severamente Salgado e o que chama de “amadorismo” da atual diretoria. Ele defende que Mussa, ex-presidente da Assembleia Geral, renuncie à ação da eleição passada, o que, segundo Leven, faria com que ele se tornasse presidente do clube.

A hipótese de retirada da ação, porém, não é levada em conta pelo grupo de Brant, que tem 30 cadeiras no Conselho Deliberativo porque ficou em segundo lugar na eleição virtual do dia 14 de novembro, vencida por Salgado. Se fosse validado o pleito do dia 7, no qual Brant foi o terceiro mais votado, eles perderiam esses lugares no Conselho.

Fonte: ge

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