Dinamite, Edmundo, Romário, Ricardo Rocha, Felipão, filho e esposa relembram histórias com Pai Santana; confira vídeos

Ídolo da torcida do Vasco, Pai Santana morreu há exatamente 10 anos, no dia 1º de novembro de 2011, vítima de uma insuficiência respiratória decorrente de uma pneumonia. Jamais esquecido pelos torcedores, que cantam em sua homenagem até hoje, o massagista e pai de santo colecionou boas histórias em sua carreira no futebol, que teve passagens por Fluminense, Bahia, Kuwait, além, claro, do Cruzmaltino.

Separamos relatos de alguns destes causos protagonizados por Pai Santana e contados por Romário, Edmundo, Roberto Dinamite, Ricardo Rocha, parentes do massagista e pelo historiador Luiz Antônio Simas. Confira abaixo:

Sobrou para o Rei

Em sua passagem pelo Bahia, Pai Santana contava ter sido peça fundamental para que o Tricolor fosse campeão da Taça Brasil contra o Santos de Pelé.

– A primeira história do Santana nem é do Vasco. Ele diz que tirou o Pelé da final da Taça Brasil, Santos x Bahia, em 1959. O Bahia ganha na Vila, o Santos ganha na Fonte Nova, e o terceiro jogo é no Maracanã. O Pelé sentiu uma contusão. O Santana adorava dizer que tirou o Pelé daquele jogo, que fez um trabalho e tal – relatou Luiz Antônio Simas.

“Vai para o pagode?”

Zagueiro do Vasco em 1994 e 1995, Ricardo Rocha foi outro jogador a criar forte vínculo com o Pai Santana. Dono de jeito irreverente, o ex-jogador recordou a dedicação do massagista no trabalho, mas também das brincadeiras que fazia quando via Santana sair na madrugada para fazer seus famosos trabalhos de Candomblé e Umbanda pela vitória do Vasco.

– Tem pessoas que a gente sente saudade. Eu sinto muita saudade. Porque quando eu machucava, ele ficava com a gente. Tinha uma paciência… Eu torcia o tornozelo num jogo domingo, aí o Doutor Eurico: “Vai ter que ficar aí no hotel”. Ele ficava uma semana, dez dias, um mês com você se precisasse e com um sorriso… A gente dormia, p***, aí 2h da manhã, tu via aquela mão no tornozelo passando óleo e botando toalha (risos). P***, pai, 2h da manhã. Ele não dormia, era incrível, ele queria que você ficasse bom e jogasse.

– Todo mundo dá massagem com a mão, e ele tinha uma maquina que fazia assim. Ele passava na perna, a idade não tinha aquela força. Ele adorava, passava óleo. Esse aqui tem um preparo… P***, Santana, vai enganar os caras… Meu Deus do céu. Essa coisa do folclore que fazia com que todo mundo acreditasse, mas nunca para fazer mal, só para o time contrário. Ele falava: “Essa noite eu vou sair”. Eu perguntava: “Vai para o pagode?”. “Não, vou fazer meus trabalhos”. Vai com Deus.

Referência no Kuwait

Luiz Felipe Scolari não chegou a trabalhar com Pai Santana no Brasil, mas ficaram muito próximos no Kuwait, no fim da década de 80, quando os dois foram contratados para atuar no país. E, segundo Felipão, o massagista, contratado pela seleção local, virou referência e passou a tratar de jogadores de todos os clubes, sempre que uma lesão mais grave exigia.

– Todos os jogadores do país naquela época no Kuwait, quando tinham um problema maior, eles solicitavam ao Sheik na Federação pra ir para a Federação fazer tratamento com o Santana. Os clubes, nós tínhamos muitos brasileiros treinando outras equipes, tinham outros massagistas, treinadores da Iugoslávia, tchecos, mas os jogadores dos clubes, independente se era do Qadsia, do Al-Nasr, grandes, pequenos, qualquer problema eles iam pra Federação porque o Santana dava jeito. E o Santana dizia do jeito dele, não sei como: “É isso, isso e isso”. E depois eles iam, porque muitas vezes saíam do Kuwait e tinham médicos egípcios conceituados, alguns iam e voltavam: “Olha, é isso aqui que tu falaste”. Ele, com o conhecimento dele, superava tudo que os outros tinham com aparelhagem, ele dizia antes. Ele foi uma pessoa que no Kuwait marcou época.

“O que o Santana vai fazer aqui?”

Militar, Pai Santana trabalhou por muitos anos no Exército também, assim como seu filho, Roberto Santana, conhecido como Bola 7. E durante um período desta época, o Fluminense treinava na Escola de Educação Física do Exército, local onde Santana e Bola 7 costumavam se encontrar no trabalho. Era o suficiente para aterrorizar os tricolores em semana de clássico contra o Vasco.

– Houve uma época que o Fluminense treinava na Escola de Educação Física do Exército, e meu pai era do Vasco. De manhã, o Fluminense treinando, meu pai passava: “Esses caras… tenho que jogar uma macumba”. Quando tinha Fluminense x Vasco, meu pai aterrorizava os caras, os caras ficavam aterrorizados, ficavam com medo do Santana. “O que o Santana vai fazer aqui?”. Os caras ficavam de olho, preocupados.

Bênção no terreiro

Muito antes de se tornar o maior ídolo da história do Vasco, Roberto Dinamite também recebeu conselhos de Pai Santana, que aproveitando uma passagem do clube pela Bahia, levou o então jovem jogador ao terreiro de Mãe Menininha do Gantois, famosa mãe de santo da época, em Salvador.

– O primeiro grande contato com o Santana foi no início da minha carreira, ficou gravado. Foi meu primeiro jogo pelo time principal fora do Rio, foi na Bahia, entrei no segundo tempo. Na véspera ele falou: “Você está iniciando a carreira, quero te levar em um lugar. Você pode ir?”. Eu falei vamos lá. Ele me levou na Mãe Menininha do Gantois, primeira e única vez que tive o contato direto. Eu tinha uma foto em pé, sendo rezado, o que eu pedi foi proteção para que eu pudesse seguir minha carreira e acho que fui ouvido. Tenho certeza. E ele contribuiu muito nesse início. O começo é difícil, e ele foi muito importante naquilo que ele acreditava, no que eu acreditava.

“Você vai pro Vasco?”

A ida de Pai Santana para o Vasco tem participação fundamental de dona Carmen, sua esposa, vascaína fanática. Foi justamente em um clássico contra o Fluminense, quando Santana estava no Tricolor, que um dos trabalhos do massagista contra o Gigante da Colina levou Carmen à loucura. Segundo ela, foi a partir dali que ele foi convencido a se transferir das Laranjeiras para São Januário.

– Teve um jogo que o Vasco até estava ganhando. Quando chegou no intervalo, ele entrou no campo, falou não sei o quê com o juiz, e o Fluminense voltou todo de camisa trocada. E o Vasco estava ganhando de dois a zero, o Fluminense virou e ganhou de três a dois. Nesse dia eu explodi. E eu estava com um cunhado que era tricolor. Eu xingava ele e ele dizia: “Pô, mas não é teu homem?”. E eu não queria saber: “Seu filho disso! Seu filho daquilo!”. Acho que foi daí que ele resolveu ir pro Vasco. Ele alugou um apartamento em Copacabana, eu nem sabia, na Siqueira Campos, e me deu a chave. Eu achava que não ia dar pra encarar, porque eu era metida a bonitona, gostosona, entendeu? Porque eu era mesmo! E falava: “Não vou encarar esse negão de jeito nenhum”. Ele aí ligou e disse assim: “Carminha…”, que ele só me chamava de Carminha. “Carminha, eu não vou te buscar não, porque eu estou aqui”. Não estou lembrando o nome do edifício que era o escritório. Aí eu falei: “Você vai pro Vasco?”, e ele disse: “Vou, Carminha. Estou cansado de você me xingar”. Por isso que eu digo que ele foi pro Vasco por minha causa, entendeu? Mas ele foi tão bem recebido, tão bem tratado e tão bem amado que ele se tornou o maior vascaíno, na minha opinião. Porque tudo pra ele era o Vasco.

Mais gritado que o Baixinho

Apesar de ter marcado 326 gols com a camisa do Vasco, Romário lembrou que muitas vezes Pai Santana tinha o nome mais gritado pela torcida do que ele e que isso era motivo de brincadeira no vestiário.

– O Pai Santana, ele não foi uma pessoa folclórica no futebol brasileiro ou carioca, ele foi um ídolo. E isso a gente tem que respeitar. “Pai Santana, tá de sacanagem, você não faz um gol”, exatamente essas frases, “você não dá um chute e é mais gritado que eu”.

Pugilista e “co-autor” de gol histórico de Dinamite

Antes de ser massagista, Pai Santana chegou a iniciar carreira no boxe, mas o historiador Luiz Antônio Simas diz que não há relatos de ele estar envolvido em pancadaria. Sua fama era de fazer boas mandingas e, em uma delas, Santana garante ter ajudado Roberto Dinamite a fazer seu mais belo gol, contra o Botafogo, quando deu um lençol no zagueiro Osmar antes de estufar a rede do Maracanã.

– O Santana tinha fama de “porradeiro”. É curioso porque falavam que era perigoso, foi meio-médio-ligeiro de Boxe, era parrudo, mas não há referência de pancadaria envolvendo o Santana. O Santana intimidava pela mandinga, e não pelo físico, pela porrada. A mandinga que dava essa aura maravilhosa. Outra ocasião era o Santana falando que o Roberto ia se consagrar antes de um jogo contra o Botafogo, que fez um trabalho. Não sei se funcionou ou não, mas o Roberto faz um dos gols mais bonitos da vida dele, quando dá um balão no Osmar e faz um gol maravilhoso, estufando a rede. Ele corre para a geral. O Santana gostava de dizer que era co-autor desse gol, talvez o mais bonito da vida do Dinamite.

Resenhas no vestiário

Um dos jogadores mais próximos de Pai Santana foi Edmundo. O Animal relatou o ambiente descontraído que tinha com o massagista no vestiário e as brincadeiras que costumava fazer com o amigo e companheiro de trabalho.

– A gente brincava muito com ele, que ele tinha uma língua grande e a gente brincava se era tudo grande, que ele tinha ficado rico lá porque… enfim… ele tinha uma bela casa em Portugal, foi um profissional muito querido por todos mundo afora. Ele contava histórias e histórias bacanas, ria muito das histórias que ele mesmo contava, mas mesmo quando esteve no Kuwait, a cabeça dele estava em São Januário, era isso que ele me dizia diariamente. A gente sacaneava muito ele. Talvez o que eu sinta mais falta no futebol é aquele ambiente do vestiário que a gente fala um monte de besteira, confraterniza, brinca até a hora de entrar em campo e fazer o trabalho com seriedade e que às vezes não dá certo. Vocês vão mostrar que ele trabalhava com sorriso no rosto, amor, dedicação, que é mais importante que tudo. Fora isso, ele é folclórico porque fazia as mandingas pro Vasco vencer, mas mais importante era seu trabalho do dia a dia. Ele é com certeza o profissional mais dedicado com quem eu tive a oportunidade de trabalhar.

Fonte: ge

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