Julio Brant fala sobre sua proposta de ‘pré-SAF’, recusada por Jorge Salgado

Em nota divulgada no último domingo, o Vasco informou que Jorge Salgado teve reuniões com beneméritos e lideranças da oposição para falar sobre a transformação do clube em empresa. Na ocasião, Julio Brant propôs a criação de uma “pré-SAF”, que não foi aprovada pelo presidente. Como funcionaria essa estrutura que antecederia o modelo pretendido pela diretoria? E em que pé está a constituição da SAF? O ge explica.

Brant fará parte da comissão para a constituição da SAF do Vasco. Nesse grupo estão também o presidente Jorge Salgado, o primeiro vice-presidente Carlos Osório, o segundo vice-presidente Roberto Duque Estrada, o membro do Conselho Fiscal Silvio Roberto Almeida, além de dois beneméritos.

“Pré-SAF” como solução de curto prazo

Ao ge, Julio Brant explicou que a ideia do que chamou de “pré-SAF” é iniciar desde já a separação entre clube social e futebol, criando uma estrutura organizada para a entrada de recursos imediatos. O “investidor teria a preferência na compra” do Vasco assim que a SAF fosse constituída, mas o clube também teria a possibilidade de pagar o aporte feito e partir para outras propostas, a depender de um acordo pré-estabelecido.

– Eles estão botando dinheiro no risco, então têm uma preferência de entrada na SAF, o que não quer dizer que seja uma posição de privilégio. Vamos supor que o Vasco avalie sua SAF em R$ 1,2 bilhão, e os caras coloquem R$ 120 milhões, com o clube tendo que pagar isso de volta até 2023. Nesse período a SAF é constituída. O Vasco tem a possibilidade de pagar os R$ 120 milhões ou converter esse valor em uma porcentagem de participação, e eles poderiam completar o pagamento para chegar no que o clube estiver disposto a vender para que tenham o controle da SAF – afirmou Brant, para completar:

– Essa modelagem, grosseiramente falando, é como se o Vasco estivesse fazendo uma emissão de debêntures (título de dívida) conversíveis. Assim eu transformaria dívida em equity, que seria uma participação acionária. Isso é um modelo comum no mercado. Essas debêntures conversíveis são emitidas com data de vencimento e, nesse prazo, a empresa tem como opções pagar a dívida ou converter em participação na empresa. Essa decisão não depende de conselho, depende só da diretoria administrativa.

A implementação da “pré-SAF” se daria por um pacto entre o próprio Brant e Jorge Salgado, que se responsabilizariam por eventuais prejuízos ao acordo. O presidente, porém, aposta na constituição da SAF como principal solução para o Vasco.

– Ele acredita que o melhor caminho é a SAF e que vai acontecer no curtíssimo prazo. Eu não acredito, mas torço por isso. E disse que vamos aprovar no conselho. Segundo ele, tão logo fosse aprovada a SAF, ele já teria um valor X acordado para colocar no clube – acrescentou Brant.

A proposta apresentada por Brant é uma solução mais urgente para a crise vivida pelo Vasco, que tem dívida milionária e iniciou 2022 com velhos problemas. O clube deve dois meses de salários a jogadores e funcionários, além de férias e 13º. Existe ainda uma preocupação com o desempenho esportivo do time, que corre o risco de não conseguir mais uma vez o acesso à Série A.

Proposta é viável?

O que Brant sugere é uma espécie de empréstimo, com a dívida convertida em participação na SAF. Para levar em conta a proposta seria preciso entender o perfil do credor da “pré-SAF”. Uma das preocupações dos clubes que fazem esse movimento de transformação em empresa, por exemplo, é o respeito às metas esportivas da equipe. Entender o objetivo de longo prazo do investidor é fundamental para esse tipo de acordo, que prevê entregar a ele uma parte do clube.

Na visão do jornalista Irlan Simões, pesquisador da UERJ e organizador do livro “Clube Empresa: abordagens críticas globais às sociedades anônimas no futebol”, a ideia faz sentido.

– Olhando por cima parece uma ideia interessante se esse grupo tiver acordo muito bem alinhado com as lideranças políticas do clube. É uma medida interessante, porque você vai converter a dívida em participação acionária, que pode ser minoritária, discutida pelo próprio clube até onde poderia ir. A própria lei da SAF já prevê que é possível converter as dívidas da associação em participação acionária. Pelo que dá a entender, o Brant se antecipa às possibilidades de isso ter um problema político no Vasco, que é a associação perder o controle da SAF.

– Pelo que eu sei, ninguém no clube ainda está falando nesse sentido, como Cruzeiro e Botafogo fizeram. O Vasco continuaria controlando a SAF, com a possibilidade de ter outros acionistas dentro dessa composição, ainda que o controle seja da associação. Essa “pré-SAF” seria um empréstimo com acordo pré-estabelecido que, assim que instituída a SAF, o que ainda demora, esses credores teriam a garantia que esse valor seria revertido em ações. Acho que faz sentido, inclusive dentro do contexto político do Vasco – avaliou Irlan.

SAF ainda em estágio inicial

Um dos encontros de Jorge Salgado na última sexta foi com Luis Manuel Fernandes. Presidente da comissão criada pelo Conselho de Beneméritos para acompanhar a proposta da reforma de estatuto do Vasco, o grande benemérito ainda vê um longo caminho para a constituição da SAF.

Luis foi pré-candidato à presidente nas últimas eleições do clube, mas acabou apoiando Luiz Roberto Leven Siano, nome da oposição, no pleito. Os beneméritos receberam de Jorge Salgado em dezembro a proposta de criação da SAF para apreciação, mas devolveram ao presidente um documento com dez perguntas sobre o processo.

– Nós elaboramos um conjunto de perguntas que deviam ser respondidas pela diretoria para que pudéssemos avançar na apreciação da proposta. Isso foi tratado na reunião de sexta. A bola está com o presidente, ele ficou de responder as dúvidas do Conselho. O que o presidente apresentou não foi um projeto, foi uma espécie de carta de intenção. Essa é uma discussão muito complexa e estou disposto a participar, porque uma proposta bem desenhada pode ser interessante para o clube – contou Luis Manuel, para concluir:

– Nos pareceu uma proposta ainda muito embrionária. É preciso toda uma discussão no conselho até amadurecer essa proposta. É um processo demorado, que ainda está muito no início.

A proposta foi apresentada pelo presidente Jorge Salgado como única solução possível para o Vasco, o que não vai de acordo com a posição dos beneméritos. Luis enxerga a SAF como uma das alternativas e sugere pesar as vantagens e riscos de todas elas.

Um dos passos para a constituição é a alteração do estatuto atual do Vasco, que não prevê a criação de uma SAF. A expectativa é que a questão seja apreciada pelo Conselho Deliberativo em breve.

Após a mudança estatuária para a instituição da SAF, espera-se ainda um caminho longo de debates, dado o contexto político do clube, para um acordo entre os vários participantes.

Em dezembro, com aval dos conselhos, a diretoria deu início aos estudos do projeto com a contratação de empresas para avaliar os ativos que serão incorporados na SAF, além da análise de estatuto, governança, composição, parte jurídica e formatação da proposta.

Além do grupo formado por beneméritos e oposição, a direção criou um grupo executivo, formado pelos vice-presidentes gerais, Carlos Osório e Roberto Duque-Estrada; pelo VP Jurídico Zeca Bulhões; pelo VP de Finanças, Adriano Mendes; pelo VP de Relações Públicas, Maurício Corrêa; e pelo CEO Luiz Mello. A ideia é fiscalizar e garantir o cronograma junto às empresas contratadas.

Fonte: ge

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