Joel Santana: ‘Tenho ido constantemente ao Vasco e conheço muito bem o Jorge Salgado’

Folclórico, impagável, mas sábio. Experiente ao extremo. Joel Santana é um dos mais vitoriosos treinadores do futebol brasileiro. Em entrevista ao Jogada10, ele falou abertamente o que pensa sobre a chegada de tantos treinadores estrangeiros ao país, analisa o panorama do futebol carioca e diz quais as suas condições para voltar a reinar nos campos Brasil afora. Garoto-propaganda que vem fazendo inegável sucesso, criou um canal no Youtube pelo qual vem se realizando: “Se for bem eu elogio, mas se for mal eu meto o pau. Me deram muita porrada, agora é a minha vez!”

JOGADA10 – Como vê essa enxurrada de técnicos estrangeiros chegando ao futebol brasileiro?

JOEL SANTANA – “De um lado é bom; do outro, não. Tudo na vida é aprendizado. No futebol, não seríamos diferentes se não aprendêssemos com treinador europeu. Mas para o cara vir pra cá é preciso ter bagagem. Vejo muito treinador chegando aqui que não ganhou porra nenhuma na vida. Se fosse bom, ficaria na Europa. Não viria para o Brasil, até porque duvido que a gente pague mais do que lá. Eu mesmo passei por vários países, mas sempre fui campeão. Ganhei títulos na Arábia Saudita, nos Emirados Árabes, no Japão, até na seleção da África do Sul. Nos clubes brasileiros, então, meu histórico fala por mim. Agora, sinceramente, não vejo currículo nos treinadores gringos que estão chegando aqui. Pronto, falei”.

JOGADA10 – Há tempos você está afastado do comando técnico de times brasileiros. Você ainda almeja voltar a comandar um clube nacional ou já esboça exercer outra função no futebol?

JOEL SANTANA – “Particularmente, prefiro não escolher. Quem quer trabalhar não escolhe emprego. Agora, tem que ser um trabalho justo e sério. E de acordo com o valor do que pagarem. Se você comprar um BMW é um preço, mas um fusquinha é outro. Pouca gente no mercado tem tarimba. Hoje em dia a opinião pública faz questão de destruir os treinadores que eles chamam de “dinossauros”, que é o meu caso. Tenho 50 anos dentro do futebol: 20 como jogador e 30 como técnico. Tenho conquistas e mais conquistas. O que não aceito é um cara que eu nunca vi na vida chegar na televisão e dizer que eu estou velho e ultrapassado. Velho é ele. Manda ele discutir futebol comigo. Prefiro ficar quieto e calado, na minha, deixando passar essa nuvem, essa tormenta que está por aí, para depois enfiar na cara deles a realidade. Não é à toa que o Brasil está na situação em que está no cenário do futebol mundial. E tem outras coisas que não quero nem falar, mas não vou deixar de dizer no meu canal. Eu falo do que conheço. Vivo há muito tempo no mundo do futebol. Não em estúdio com ar condicionado.”

JOGADA10 – Trace um panorama dos quatro grandes do futebol carioca nesse momento.

JOEL SANTANA – “Para começo de conversa, fui reconhecido no ano passado como o técnico mais vitorioso da história do Maracanã. É um orgulho enorme, uma grande honra. Geralmente, só lembram da gente quando estamos mais para barro do que para tijolo. Só não quero que façam busto meu, que isso dá um azar danado. Agora, em relação ao futebol carioca, o clube que financeiramente está bem é o que caminha melhor. E quem economicamente está mal, vai mal.”

JOGADA10 – “Você considera voltar para um time do Rio de Janeiro ainda em 2022?”

JOEL SANTANA – “Hoje, não digo em relação a patrocinadores, mas não interessa a certos clubes colocar um técnico como eu. Eles preferem um técnico mais jovem, pois terão mais facilidade para conversar. Porque eu posso falar um “não” na hora. Se tiver que discordar, discordo na hora. E isso eles não querem ouvir. Com a experiência que tenho, não sou treinador para fazer contrato de três meses. Não vou sair da minha casa para montar um grupo, formar um time, e tanto faz se for clube grande ou pequeno, para ser demitido após dois ou três resultados ruins. Comigo o buraco é mais embaixo. A verdade é que o atual momento do futebol carioca é melancólico. Tem pessoas no futebol que nem sabem onde fica o campo do Olaria, do Madureira, o Caio Martins. Quer que eu fale mais? Canal do Joel, no Youtube”.

JOGADA10 – Como você analisa a chegada do investidor John Textor ao Botafogo?

JOEL SANTANA – “Penso que tem que ser assim mesmo. Que chegue alguém com grana e com uma equipe que conheça do assunto, para saber identificar os problemas tendo capacidade de resolvê-los. Só que o importante é não investir apenas no futebol profissional, mas sim nas categorias de base. Cito vários jogadores que formei em diversos clubes que foram campeões tanto nos juniores como no profissional. Hoje você quase não vê isso. Entra o amigo do amigo, o cara que é amigo do diretor, etc…”

JOGADA10 – E o que dizer da situação em que se atolou o Vasco?

JOEL SANTANA – “Tenho ido constantemente ao Vasco e conheço muito bem o Jorge Salgado. Ele tem boas intenções, mas precisa ouvir mais quem conhece do assunto. Quando o Vasco estava para cair, apontei para ele onde estavam as feridas, só que ele não acreditou. E as pessoas que estavam com ele não gostaram, porque eu disse a verdade na lata. Não estava cavando emprego não, até porque não preciso. Não fizeram nada e deu no que deu. Assim que o clube caiu, a primeira atitude da diretoria foi dispensar três jogadores que eu tinha dito lá atrás que eram frutas podres. Brincadeira isso… O Vasco eu conheço muito bem. Talvez eu seja o treinador que deu mais títulos ao clube, porque ganhei pelo juvenil, pelos juniores, pelos aspirantes e no profissional. Eu aprendi uma coisa: converse muito com o seu pai, que é ali que está a experiência. Pai é pai e mãe é mãe. Então, clube de futebol tem que dialogar com pessoas experientes. Trabalhei nas categorias de base dos Emirados Árabes e na única Copa do Mundo que eles disputaram havia quatro ou cinco atletas que passaram pelas minhas mãos quando jovens. Você tem que saber quem é quem. O problema é que não querem mais me ouvir. O cara coloca uma camisa da Louis Vuitton, uma cueca de seda, calça apertadinha, sapatinho sem meia e óculos escuros, vem com cabelinho cortado em cima e raspadinho embaixo, uma gravatinha e, pronto, fodeu! Se ainda chega vindo de Portugal, meu Deus, as pessoas olham esse cara e acham que o conhecimento todo está ali. Ah, Joel, cala-te boca. Deixa eu ficar quieto…”

JOGADA10 – De uma hora para outra você virou garoto-propaganda. Está curtindo essa nova fase?

JOEL SANTANA – “A vida apresenta um monte de surpresas e você tem que estar preparado para isso. Essa coisa aconteceu de forma gradativa. Primeiramente, como aqui só tem mestres da inteligência, quiseram fazer gozação comigo. E dessa sacanagem eu virei a página, dei um contragolpe neles que eles sentiram. Daí, muitas outras coisas foram surgindo e eu gostei. Logo, eu e a Adry Santos decidimos abrir o nosso próprio canal. Afinal, tenho 50 anos de estrada nesse meio. Você não pode trancar meio século de experiência dentro de uma gaveta.”

JOGADA 10 – Fala mais desse canal para nós.

JOEL SANTANA – “Nele eu conto histórias que vivi com os grandes jogadores com quem trabalhei. São inúmeros craques consagrados. Falo maravilhosamente bem deles e não vou ficar me auto elogiando aqui, não: quem tem que me elogiar são eles. Pergunte a qualquer um deles sobre mim e ouça o que vão dizer. Pode ser até alguém com personalidade, como o Loco Abreu. Ele já passou por mais de 30 clubes, mas veja o carinho que tem por mim. Tivemos, sim, divergências de opinião, o que é normal. Outro é o Renato Gaúcho, que chegou desacreditado ao Fluminense em 1995. Não sou de botar fralda e talquinho em jogador, eu conheço eles todos. Nunca tive nada contra o Renato. Sabe como o chamava? De Baby! Se eu não gostasse dele ou ele de mim, ele aceitaria ser chamado de Baby? É isso! Hoje, com esse canal, me sinto mais à vontade de falar de futebol. Bem melhor do que ficar sozinho em casa assistindo pela televisão. Agora, nesse canal é o seguinte: se está bem eu elogio, mas se tá mal, meto o pau. Me deram tanta porrada de graça e agora não vou dar porrada nos outros? É toma lá, dá cá, meu irmão!”

JOGADA10 – Qual a situação mais curiosa que você viveu ao longo de toda essa pandemia do coronavírus?

JOEL SANTANA – “O grande problema é que você não sabe onde está o perigo. Ultimamente, não tiro a máscara nem quando entro no carro. Teve um dia que fiquei resfriado e dormi de máscara. O engraçado é quando fui certa vez tomar banho e entrei no chuveiro de máscara e tudo! Coisas do Papai Joel…”

Fonte: Jogada 10

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