Vascaíno desde a infância, Yuri Lara está perto de ajudar a garantir o acesso do Vasco à Série A

Aos 28 anos de idade, Yuri Lara vive certamente o ponto mais alto da carreira. O volante de 1,73m e muita entrega no meio de campo está prestes a subir com o Vasco, que pode garantir matematicamente sua vaga na elite nesta quinta-feira, quando enfrenta o Sampaio Corrêa em São Januário. Seria o terceiro acesso na carreira do volante, que já conseguiu o feito com as camisas de Bahia e CSA. O primeiro pelo clube do coração.

Terceiro colocado na Série B, com 59 pontos, o Vasco precisa de uma vitória simples sobre o Sampaio para assegurar o acesso. Em caso de empate ou derrota, dependeria do resultado dos jogos de Ituano e Sport para alcançar o objetivo nesta rodada. A bola rola às 21h45, com transmissão da TV Globo (para o Rio de Janeiro) e SporTV.

Yuri é peça fundamental desse Vasco. Dos 36 jogos disputados até aqui, o volante foi titular em 32. Perde nesse quesito apenas para o goleiro Thiago Rodrigues e para o zagueiro Anderson Conceição, ambos com 34, mas porque recebeu nove amarelos na competição e, portanto, precisou cumprir suspensão três vezes.

Apesar disso, ele deve ser reserva nesta quinta – Yuri não está 100% recuperado de um desconforto na virilha, e Jorginho vem elogiando as entradas de Palacios como volante. A outra única ocasião em que não começou jogando por opção técnica foi na derrota por 1 a 0 para o Vila Nova, na 20ª rodada.

Ele foi a campo ao todo 38 vezes na temporada. Não fosse a lesão que o tirou de boa parte do Campeonato Carioca, 2022 tinha tudo para ser o ano em que mais jogou na carreira – o posto continua pertencendo a 2018, quando atuou 42 vezes com a camisa do CSA. Restam apenas duas rodadas para o fim da Série B.

Ainda assim, não é exagero algum dizer que Yuri Lara, o jogador que mais desarma na competição, vive o ano dos sonhos com o Vasco da Gama.

– Eu me arrepio toda vez que a gente vence um jogo – admitiu Yuri depois da vitória por 2 a 1 sobre o Criciúma na última rodada, quando foi flagrado aflito nos minutos finais na beira do campo.

“Como todo mundo sabe, eu já estive lá na arquibancada. E hoje estar aqui é um privilégio, eu fico muito feliz”, acrescentou.

Contra o Criciúma, o volante foi substituído no intervalo, quando o Vasco perdia por 1 a 0, e não gostou nem um pouco. O técnico Jorginho, a caminho do vestiário, comentou sobre a possibilidade de tirá-lo para o segundo tempo. Além da necessidade de melhorar a saída de bola na etapa final com a entrada de Palacios, existe o fato de que a dor na virilha ainda incomoda.

Ele nunca havia saído tão cedo de uma partida nesta temporada. “Ele ficou bolado”, reconheceu a mãe Adriana Lima, acrescentando que esse é o jeito do filho.

– Ele ama bola, ama jogar bola. Ele já jogou com dor de dente, com o dedo sem um pedaço da unha, enfaixado… – contou Adriana em conversa com o ge.

É o mesmo que Yuri Lara que, uma vez, quando tinha por volta de 10 anos, protagonizou um momento que até hoje diverte os parentes. Foi num final de semana em que eles estavam no sítio da família em Povoado de Ramos, no interior de Minas Gerais. Yuri jogava bola com os primos e os tios num campo improvisado no terreno, embora estivesse sofrendo de uma terrível dor de barriga. De jeito algum arredaria o pé do futebol.

Até que, sem conseguir aguentar mais, arriou as calças e decidiu se aliviar ali mesmo, na beirada do campo. O tio Luis Cláudio, vascaíno e um dos incentivadores de Yuri na carreira, recorda o episódio às gargalhadas.

– Ele era tão fominha que ele queria ir no banheiro, mas não falou com ninguém até não aguentar mais. A gente ria muito, cara. Para ver como o cara era fominha de bola.

“MÃE, NÃO VOU MACHUCAR NINGUÉM!”

Cão de guarda da defesa do Vasco, Yuri Lara tem ao todo 120 desarmes na Série B, o que dá uma média de quase quatro por jogo. Cada um deles, pode ter certeza, foi comemorado pela torcida. Tão habitual quanto os diversos cantos dos vascaínos na arquibancada são os gritos de “ruf ruf ruf”, como latidos de cachorro, a cada bola roubada pelo camisa 5.

Criado na Pavuna, bairro da Zona Oeste do Rio onde fica localizada a última estação da linha 2 do metrô, Yuri cresceu jogando bola nos campos do Parque Colúmbia e em campeonatos de favela. Foi a escola onde aprendeu o futebol pegado, de imposição física, que ele preserva até hoje.

– No campeonato de favela, se você baixar a guarda, entrar meigo, você se complica e os caras te atropelam. Eu não abaixava a cabeça para ninguém e levo isso comigo – explicou ele em entrevista ao site Jogada 10, em junho.

“Às vezes as pessoas pensam que, por eu ser baixinho, vou aceitar qualquer coisa e não é por aí. Não sou maldoso, mas também não vai chegar em São Januário e achar que eu vou deixar fazer o que quer. É isso que eu carrego comigo”, concluiu.

Esse estilo mais agressivo de jogar futebol causava apreensão em Adriana, que, no início, quando Yuri começou a dar os primeiros passos no Olaria, alertou mais de uma vez para que o filho tomasse cuidado em campo. “Não machuca ninguém e não deixa ninguém te machucar”, ela dizia.

– Ele ficava louco quando não conseguia pegar na bola. Eu falava “Yuri, tenha calma”. Ele respondia: “Mãe, é meu jeito mesmo, de pegar, correr atrás e não deixar a bola passar. Não vou machucar ninguém, mas eu só consigo tirar a bola desse jeito”. Desde pequeno era assim – conta a mãe do volante.

No início, os pais, Adriana e Jorge Lara, tiveram que pedir cartão de crédito emprestado para comprar as chuteiras de Yuri – que arrebentavam de dois em dois meses, Adriana se lembra. Em certa ocasião, num campeonato realizado em Niterói, um dos pés simplesmente abriu no meio da partida, e seus companheiros tiveram que se virar no banco para encontrar outro calçado do tamanho correto. No dia seguinte, ganhou um par de presente dos pais dos colegas.

Com quase 10 anos de carreira profissional, Yuri Lara hoje em dia compensa como pode. Bancou a faculdade da Bruna, a irmã mais nova, e paga por exemplo o plano de saúde da mãe, que é diabética. “Ele nos ajuda muito”, Adriana diz, orgulhosa.

Do Olaria, Yuri chegou ao Bahia em 2015, ano em que a carreira finalmente deslanchou. Foram 38 partidas disputadas pelo clube tricolor logo na primeira temporada. Depois, passou duas vezes pelo CSA, defendeu Oeste e Ferroviária por empréstimo e chegou a jogar no Tochigi, do futebol japonês, antes de acertar com o Vasco em dezembro do ano passado. Seu contrato termina daqui a dois meses.

O LAÇO VASCAÍNO

Seu Enéas, então um marinheiro reformado, foi o responsável por espalhar o amor pelo Vasco a pelo menos duas gerações da família. Ele assistia a relogiosamente todos os jogos do clube, alguns no estádio, mas a maioria no sofá de casa, cercado pelas crianças. Diabético, ele morreu há cerca de 17 anos após sofrer uma queda no banheiro. Sobre o caixão, uma bandeira com uma metade das cores do Vasco da Gama e a outra das cores do Brasil.

Ele, portanto, não viu sequer o início da carreira do neto que, mais tarde, brilharia com a camisa do seu time do coração.

Por influência principalmente do avô, Yuri é Vasco desde que se entende por gente – tem foto sua bem pequeno, menos de um ano de idade, com a camisa cruz-maltina. Por anos o tema das comemorações de aniversário foi o clube cujas cores ele hoje defende. “A gente não aguentava mais, todo ano era festa do Vasco”, brinca Adriana.

Quando passou a estudar no período da noite, as dores de cabeça eram às quartas-feiras, dia de jogo. Yuri várias vezes matou o último horário da escola para assistir ao Vasco. Acompanhou de perto, por exemplo, o título da Copa do Brasil de 2011. Diego Souza, um dos heróis daquela conquista, foi seu adversário nos dois confrontos contra o Grêmio nesta Série B.

“Além de tudo, ele sempre teve muita fé em Deus”, Adriana define o filho que tem Nossa Senhora Aparecida tatuada em um braço e Jesus Cristo no outro. Pelo Olaria, Yuri uma vez enfrentou o Vasco. A mãe nunca se esqueceu do momento antes do jogo em que ele acariciou o ônibus cruz-maltino, a cabeça longe, e profetizou:

– Meu sonho… um dia vou jogar no Vasco.

Fonte: ge

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