Salgado relembra eleição, analisa gestão e sai em defesa da SAF no Vasco

Jorge Salgado participa do Abre Aspas (Foto: André Durão)

Acompanhado do motorista particular, o presidente do Vasco, Jorge Salgado, chegou antes das 11h para se posicionar na cadeira da entrevista do Abre Aspas. Em rara ocasião, tratou a fundo do acordo que marcou seu mandato, a venda do controle do futebol do clube para a 777 Partners. Em dezembro ele deixa o clube. Salgado não será candidato e diz que não apoiará ninguém na eleição de novembro.

Aos 76 anos, o empresário defende a venda – o que rejeitava, inicialmente, na campanha para a presidência, pois confiava em planos de captação de investimento que nunca saíram do papel -, se diz satisfeito com o clube que entrega para o sucessor e defende as críticas da transação que transformou um dos clubes mais tradicionais do futebol brasileiro em sociedade anônima de futebol.

Na primeira parte da entrevista, gravada na última terça-feira, Jorge Salgado trata da decisão e da governança do Vasco SAF. Na segunda, que será publicada na quarta-feira, com mais vídeos, fala de outros aspectos da gestão.

frente.

O senhor costuma falar de negócio de R$ 1,7 bilhão. Por que?

— É exatamente R$ 1,7 bilhão. A transação toda é de R$ 1,7 bilhão. O Vasco SAF está precificado em R$ 1 bilhão. Eles têm que botar R$ 700 milhões, e nós somos donos de R$ 300 milhões. Então tem uma caixinha com R$ 1 bilhão. E eu transferi R$ 700 milhões em dívidas para eles, acabei com o endividamento. O Vasco hoje não tem dívida. No balanço do final do ano passado, a dívida era de R$ 700 milhões. Essa dívida não existe mais, é deles. Eles botam R$ 700 milhões, se responsabilizam com R$ 700 milhões, e ainda tem no contrato que, se houver uma reforma de São Januário e o Vasco não conseguir fazer, eles têm que aportar recursos para essa reforma.

Existe sensação de que o Vasco, apesar de ter 30% das ações, não tem nenhuma ingerência nas decisões da SAF. Essa impressão é real?

— Não, eu discordo. Todas as críticas que eu tenho a fazer sobre a gestão da SAF no futebol, eu faço na reunião do Conselho. Não só críticas em relação ao futebol, mas em relação à gestão. O início da gestão foi complicado. Eu tive problema com o CEO antigo. Não quero me estender nisso, mas o início da gestão foi complicado do ponto de vista de entrosamento, ficou a SAF para um lado e a associação para outro. Não houve uma ponte, um entendimento maior entre as duas partes quando deveria ter tido. Isso deveria ter acontecido. Com a mudança que houve recentemente, com a entrada do Lúcio (Barbosa), mudou muito esse panorama. A gente está cada vez mais entrosado, se falando muito.

O Lúcio Barbosa (novo CEO) te consulta?

— Muito. É parceiro. A gente conversa quase que diariamente. Essa conversa não tinha anteriormente, entendeu? Eu conversava mais com o Paulo (Bracks) do que com o CEO antigo. Então a gente tem voz ativa, sim, no Conselho. A gente critica, a gente aponta as falhas para eles corrigirem. E corrigiram. Tanto no futebol quando na gestão administrativa. Saiu a pessoa mais importante da SAF (Nota da redação: refere-se a Luiz Mello), não é fácil você mexer numa posição tão importante com tão pouco tempo. Então a gente tem voz, sim.

Quais são os gatilhos para se proteger caso, por exemplo, o Vasco seja rebaixado?

— Do ponto de vista acionário não tem nenhum. Agora, se o Vasco é rebaixado, tanto o diretor de futebol como o CEO são demitidos. Automaticamente. Eles podem estar fazendo uma gestão espetacular, o diretor de futebol do Vasco e o CEO do Vasco são demitidos.
— Aliás, bom falar um pouco do contrato, porque as pessoas mentem muito, criam uma ficção por não terem lido o contrato. Eu me acerquei, atuo dessa maneira na minha empresa e trouxe esse know how para dentro do Vasco, procuro fazer da melhor maneira, com o melhor assessoramento possível. Nessa transação, eu fui buscar se não o melhor, um dos melhores escritórios societários do Brasil, o BMA, o melhor escritório do ponto de vista fiscal, o Verano, procurei o assessoramento de uma empresa mundial, a KPMG, para me ajudar a prospectar investidor lá fora e melhorar meus processos internos. Essa preocupação das pessoas de fora, que querem ver o contrato, o contrato foi feito pelo melhor escritório de advocacia do Rio de Janeiro, quiçá do Brasil, isso é um selo de qualidade.

— Estou absolutamente tranquilo. Se o próximo presidente assumir e quiser ver o contrato, não tem problema nenhum, vai lá, se entende com a SAF. Fazem um carnaval, o contrato está funcionando.

O senhor citou a KPMG. É deles a comissão de R$ 28 milhões pelo fechamento do acordo?

— Houve uma narrativa que era um absurdo pagar R$ 28 milhões para a KPMG por conta desse contrato. Quando a gente já estava mais ou menos acertado com a KPMG, eu tinha outras duas alternativas, dois bancos, as duas propostas eram mais ou menos o dobro do que a KPMG recebeu, que eles propunham de comissão. A comissão da KPMG, em termos de mercado, foi quase metade do que a concorrência propunha. Não foi só o preço que balizou, mas a capacidade técnica deles. Esse pagamento de R$ 28 milhões não foi o Vasco que pagou, quem vai pagar isso é a SAF. É extra contrato. Eu não recebo R$ 700 milhões e tenho que pagar R$ 28 milhões para a KPMG, não. A SAF tem que me pagar R$ 700 milhões e tem que pagar mais R$ 28 milhões para a KPMG. E tem que pagar isso de acordo com a entrada dessas parcelas, ela vai receber isso ao longo dos pagamentos.

Como o senhor enxerga o futuro das SAFs? Acha que a 777 pode revender daqui um tempo?

— Eu enxergo o seguinte: um investidor americano resolveu investir no futebol brasileiro, escolheu o Vasco para investir. Por que? O Vasco é a quinta ou quarta maior torcida do Brasil, torcida engajada, clube com margem enorme para aumentar suas receitas, mas totalmente colapsado financeiramente. Viram uma ótima oportunidade de investimento, botar dinheiro agora e ganhar muito lá na frente. Talvez vender ou não. Qualquer tipo de negócio tem que gerar uma expectativa de retorno.

— Eles acham que esse ativo vai valorizar muito. É ótimo que isso aconteça, porque eles só vão ter sucesso se o Vasco tiver sucesso. Só vão vender isso aqui caro se o Vasco tiver conquistas. Então é uma parceria maravilhosa. A gente vai continuar a ser Vasco eternamente e eles tendo que correr atrás dessas conquistas para valorizar a marca se eles quiserem vender mais caro. Se eles fracassarem eles vão perder esse dinheiro investido. Eles têm que pedalar, correr atrás do sucesso. E a gente vai junto.

Fonte: ge

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