“Sobreviventes” do “Green Hell” dão conselhos para o Vasco: “Cabeça fria”

Torcedores com rosto pintado, fogos de artifício perto do hotel do adversário, cerco na entrada do ônibus visitante no estádio, muita fumaça verde nas ruas e arquibancada, clima de guerra. Em jogos decisivos no Couto Pereira, a torcida do Coritiba costuma exercer grande pressão sobre o time oponente, cenário que pode se repetir neste domingo. Apesar de as chances de rebaixamento do clube serem mínimas – 1% segundo cálculos do matemático Tristão Garcia -, o Vasco deve encontrar um rival motivado: além de eliminar qualquer risco de queda, os coxas-brancas, famosos pelo “Green Hell” (inferno verde, em inglês), vêm se manifestando na internet cobrando vitória para vingar a perda do título da Copa do Brasil de 2011.

O “Green Hell” como antes não existe mais. A festa original usava sinalizadores, foi criada em 2009 no jogo Coritiba x Internacional, pela Copa do Brasil, e repetida mais oito vezes, sem derrotas em campo: sete vitórias e dois empates. Mesmo depois da proibição de sinalizadores nos estádios, o ambiente intimidador nos jogos decisivos continuou sem os objetos pirotécnicos, mas ultimamente colecionou insucessos. E dois ex-vascaínos “sobreviventes” do inferno verde dão conselhos para os jogadores cruz-maltinos que tentarão salvar o time do rebaixamento.

Um deles é Eduardo Costa, volante titular naquele time de Diego Souza, Felipe, Dedé e companhia que foi campeão da Copa do Brasil em cima do Coritiba, mas o título foi sofrido e só foi definido nos gols marcados fora de casa, que era critério de desempate. O Vasco ganhou o jogo de ida por 1 a 0 em São Januário e perdeu por 3 a 2 no Couto Pereira depois de muito sufoco, dentro e fora de campo. O ex-jogador, aposentado desde julho, lembrou do aperto que foi na chegada ao estádio: a delegação teve que passar no meio dos torcedores adversários.

– Atmosfera de muita pressão. Lembro que nosso acesso ao estádio foi bem complicado, teve bastante escolta. Pegamos um caminho alternativo e mesmo assim teve muita dificuldade. Na torcida do Vasco estava minha família, irmão, pais… Eles ficaram um tempão isolados por precaução. Foi um jogo complicado, torcida lá empurra muito. Nosso time conseguiu esse título, além da qualidade, porque tinha bastante experiência. É manter a tranquilidade. Saber da importância que vai ser a partida, mas relaxar, não entrar nesse clima porque o jogo em si já tem a pressão, pode ficar além, isso prejudica. Os dois times estão lutando contra o rebaixamento, é pressão de torcida, de imprensa, tem que fazer o máximo para não entrar nesse clima. Tem que ter o coração quente, mas a cabeça fria.

Outro que passou por essa experiência e saiu por cima foi o goleiro Rafael. Só que o episódio foi depois de terminar sua passagem por São Januário, em 2008. No ano seguinte, ele estava no rival Fluminense que foi enfrentar o Coxa no Couto Pereira em um duelo onde os dois brigavam para escapar do rebaixamento, como será o Coritiba x Vasco deste domingo – o Tricolor na época precisava ao menos do empate, e o placar terminou 1 a 1. O pós-jogo ficou marcado pela confusão e violência dentro do estádio, mas o pré-jogo também foi complicado: teve foguetório perto do hotel na véspera, copos e latinhas arremessadas no ônibus… Atualmente no Macaé, o arqueiro disse que o segredo é não cair na pilha e tomar tudo como motivação.

– Foi pressão demais, desde quando chegamos a Curitiba. No hotel, a segurança cercou o quarteirão, mesmo assim teve rojão, confusão… Para chegar ao estádio tinha muita segurança, mas a gente passava perto dos torcedores. Muitos com a cara pintada, falando que era guerra, que o bicho ia pegar, jogando latinha, copo, dando soco no ônibus… Aquilo dá mais ânimo para entrar em campo, ainda mais em estádio cheio. Jogador de futebol sabe que existe pressão de tudo que é jeito, ainda mais se falando de permanência na Série A. É não perder o foco. Importante é o jogo, a partida, independentemente se vai ter isso, aquilo… Foi um jogo muito eletrizante mesmo, graças a Deus conseguimos o empate.

Vascaínos descartam medo por violência

Torcedores depredando o Couto Pereira, arrancando cadeiras, invadindo o campo, entrando em confronto com quem estivesse pela frente, policiais usando balas de borracha e bombas de feito moral, helicóptero da PM sobrevoando o estádio… As cenas de selvageria do pós-rebaixamento do Coritiba em 2009 ficaram marcadas. Se neste domingo Vasco, Avaí e Figueirense ganharem, e o Alvinegro catarinense tirar a diferença de quatro gols de saldo, o Coxa cairia novamente para a Série B. Questionados se temem um novo palco de guerra, os vascaínos refutaram a ideia.

– Medo nenhum, vou para jogar futebol. Torcida tem que ir para torcer. Isso está ficando um pouco para trás, o ser humano está evoluindo bastante. Espero que evolua cada vez mais. Tem que entender que as pessoas que estão ali em campo representando Coritiba ou Vasco são seres humanos que têm família, pai, mãe e filhos. Então não existe isso de irem lá querendo arrumar briga. Acho que não é a melhor forma de se resolver. Que se resolva na bola e o melhor vença sempre – criticou Luan, que já fazia parte do elenco em 2011, mas não foi relacionado para a final da Copa do Brasil no Couto Pereira.

Em 2009, Rafael e companhia sequer puderam correr para o vestiário durante a confusão pós-jogo. O local já havia sido invadido, e os jogadores do Fluminense ficaram ilhados em campo. Serginho espera que a segurança tenha melhorado de lá para cá, mas defendeu que os atletas não devem se preocupar com isso, senão atrapalha a concentração no jogo.

– Creio que depois daquilo a segurança deve ter melhorado bastante no Couto Pereira. Nós jogadores não entramos em campo preocupados com isso, quando entro no jogo só consigo vivenciar aquilo. Depois que pode vivenciar essas coisas. Temos principalmente que jogar, depois vamos ver o que pode acontecer – alertou.

Para permanecer na Série A, o Vasco, além de vencer o Coritiba, no Couto Pereira, precisa torcer para o Figueirense não derrotar o time das Laranjeiras, no Orlando Scarpelli, e o Avaí não superar o Corinthians, em São Paulo. Todos os confrontos são às 17h (de Brasília) de domingo.

Fonte: GloboEsporte.com

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